Brasília, 7 de novembro de 2020
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Novembro chegou, e com ele o mais esperado evento do calendário ciclístico dos grupos Tombos do Cerrado e Pedáguas, o Piriporra, que chega a sua décima edição e Júnior ao seu 63º aniversário. Júnior preparou-se para o evento como um super herói do Universo Marvel, afinal seria o 10º Piriporra, ou X-Piriporra (usando algarismos romanos). Deixou os cabelos crescerem, naturalmente brancos, e também as unhas, transformando-se numa mistura de X-Men: Tempestade com Wolverine, totalmente apto a concluir o desafiador percurso de 73 quilômetros com cerca de 1.600 metros de subida. Mas ele não contava com a participação de vários outros heróis.

O início do pedal foi no Posto Serra, em Cocalzinho de Goiás. Pela primeira vez, o final do percurso não seria em Pirenópolis, como o nome do evento deixa claro, mas passaríamos pela cidade, como sempre. Eu não contei quantos ciclistas compareceram, mas houve mais de sessenta inscritos, um recorde.

Durante a preparação, perambulando pelo posto, percebi que heróis de outro universo infiltraram-se no evento. A Mulher Maravilha estava na área.
O segundo X-Men que encontrei foi Dario “Mística” Hugel, que transformou-se em Eldenice. Acho que ele estava de olho no Gilson.


Às 7h30 Wilmar “Ciclope” Castro, o organizador do evento, e Júnior “Wolvestade” Porra fizeram a preleção, oramos, cantamos Parabéns pra você e logo partimos. A maioria usava GPS, mas mesmo assim alguns amigos conseguiram perder-se já na saída do posto. É que eles seguiram outro grupo de ciclistas que também saía do posto para fazer outra trilha. Felizmente, logo perceberam o erro e voltaram.
Cristóvão Naud também compareceu, pela primeira vez, ao evento. Como ele não gosta de acordar muito cedo, decidiu pernoitar em Cocalzinho para não se atrasar. Contudo, nem assim conseguiu aprontar-se a tempo. Cristóvão disse que o relógio é muito mais rápido do que ele. Taí, mas um herói incorporado ao time: Cristóvão “Mercúrio”. Mas ao contrário do Mercúrio original, Cristóvão tem o poder de fazer o tempo passar mais rápido.

Encontramos nosso Mercúrio em Cocalzinho, na frente de uma loja enchendo o pneu dianteiro da bike. Não é possível! Pneu furado, já! Cristóvão, sempre ele!
Dois anos depois, foi ali em Cocalzinho a primeira vez que o grupo que viajou para a Espanha, para fazer o Caminho de Santiago, reuniu-se inteiramente. Lá estavam Ivson, Delaine, Eldenice, Cristóvão e eu. Clima nostálgico no ar.
Com Cristóvão-Sempre-Ele incorporado ao grupo, atravessamos Cocalzinho e saímos da cidade pelo oeste. Pouco antes de alcançarmos o bairro Cidade de Deus, entramos à esquerda. Fiquei esperando Cristóvão, que havia ficado para trás, e assim incorporei-me à cozinha do evento (cozinha: último pelotão).
Cruzamos o Córrego Água Fria e subimos, até encontrar o Caminho de Cora Coralina, que passamos a seguir. As pegadas do Caminho de Cora seriam nossas guias por onze quilômetros.

Subimos até entrar no Parque Estadual Serra dos Pirineus. Encontrei Silvio Sá na porteira do parque e seguimos juntos quando Cristóvão chegou. Era época de mangaba e aproveitamos para colher algumas.
A estrada sobe na direção dos picos. Quem percorre o Caminho de Cora Coralina deve escalar o Pico dos Pirineus, até a capelinha que há no alto, e depois retornar para seguir por lindo singletrack que passa ao sul da estrada principal do parque. Nosso grupo seguiu direto pelo single. Logo no início há um pequeno empurra-bike, algumas centenas de metros pelo campo rupestre, cheio de pedregulhos e algumas tocas.

Wilmar “Ciclope” Castro usou seus poderes para remover as pedras do caminho e facilitar a passagem dos ciclistas, ou foi dor de barriga, não sei ao certo.
Findo o empurra-bike, o caminho continua pelo single, que apesar da época chuvosa, estava firme e com pouca lama. A passagem pelo Morro Cabeludo é marcante, tanto que estampou a capa de meu livro Cora e eu.
Cruzamos dois pequenos riachos a vau, antes de chegar na estrada que segue até a Cachoeira do Sonrisal.
A chegada é acidentada, por isso fizeram uma escadaria para pedestres. Há também uma estrada lateral que facilita o acesso dos ciclistas. É uma cachoeira muito interessante. O Córrego Sonrisal nasce dentro do parque e suas águas puríssimas escorrem pela escarpa formando poços de águas verdes, quedas e pontes de pedra.
A saída do Sonrisal também é íngreme, mas nem tanto quanto a chegada. Seguimos por trilhas single pelas escarpas do vale até chegar numa estrada no alto, que passamos a percorrer.

A vegetação muda. Adentramos na floresta. Delaine e Ivson passaram a seguir-nos. Passamos por dois riachos a vau e pelo Córrego Barriguda por ponte. Esse é um trecho muito interessante do Caminho de Cora Coralina. Natural e isolado, favorece a reflexão.

Encontramos o pelotão de Gilson e Deny catando caju na beira da estrada. Aproveitamos para catar alguns também, mas estavam muito azedos.

O tracklog guiou-nos até a estrada de acesso à Cachoeira do Abade. Ali nos despedimos do Caminho de Cora Coralina. Em vez de continuar por ele, seguimos para a estrada do parque, e depois para o Mirante do Ventilador, parada obrigatória para quem sobe a serra de bicicleta. Pedi logo uma água de côco e fiquei esperando a turma. Eles demoraram pois Deny estava com muitas câimbras. Nada de vento do Mirante do Ventilador, que pelo jeito, estava desligado.
A turma do Dinho, Júlio Rocha, P-Sul e Júnior Caveira, juntamente com a Mulher Maravilha, fizeram um percurso diferente. Do mirante, voltaram para Cocalzinho e foram passar o dia num hotel fazenda. No hotel, eles encontraram uma verdadeira Mulher Maravilha, Raiza Goulão, atleta olímpica de mtb, natural de Pirenópolis.
Eu já estava parado há quinze minutos quando Cristóvão chegou. Em vez de ir ver o que tinha ali e apreciar a vista, ele atendeu o telefone e ficou passando instruções para seu funcionário no Rancho Cristaluna. A conversa demorou muito. Quando finalmente terminou, chamei-o logo para partir, mas foi aí que ele percebeu onde estava e foi tomar água de côco. Cansei de ficar parado, afinal, eu não tenho os poderes de controlar o tempo como Cristóvão “Mercúrio”, e desci a serra sozinho.
Como sempre, a descida da Serra dos Pirineus a partir do mirante é emocionante. Legal mesmo é quando há carros descendo, que não conseguem andar rápido devido às condições da estrada. As bikes são imbatíveis na descida! É só soltar o freio e ir ultrapassando os carro que aparecerem na sua frente. Do mirante até o Córrego do Caçado, são cinco quilômetros sinuosos percorridos em cerca de 20 minutos. Quem desce de carro leva muito mais tempo.
Chegando na cidade, encontrei Silvio Sá numa loja de aluguel de bikes, recém-inaugurada na Avenida Meia-Lua. Parei também e fui conhecer a Cipó Ecotur. Eles têm boas bikes, inclusive algumas elétricas.
Do lado da Cipó há uma lanchonete. Aproveitei para tomar suco. Silvio Sá juntou-se a mim, depois chegaram Júnior Porra, Fabiano, Iran, Cristóvão e a dupla Sérgio Reis e Magno, que haviam pegado um caminho errado no início da trilha e agora reintegravam-se ao grupo.
Depois, seguimos para o centro da cidade e encontramos a turma da Deny tomando cerveja num bar próximo à ponte do Rio das Almas. Aproveitei para lanchar. Também tiramos fotos dos cinco santiagueiros juntos, para regitrar nosso reencontro.


Levi, nosso Professor Xavier, também estava por lá, dizendo que não poderia concluir o percurso pois seu pedal havia quebrado. Será que Levi “Xavier” usou seus poderes para prever o que aconteceria caso continuasse a trilha? Veremos. Fato é que, usando sua telepatia, convenceu Sérgio “Magneto” Madureira a continuar a trilha em seu lugar. Sérgio ficaria em Pirenópolis com a família, mas foi compelido a completar o percurso, para resgatar o carro de Levi que havia ficado em Cocalzinho, retornando, então, para Pirenópolis com o carro, para que Levi pudesse voltar para casa. Levi “Xavier” é um perigo! Usando seus poderes telepáticos faz o que quer com seus escudeiros.
Partimos depois do lanche. A caminho do Morro do Frota, passei em frente a uma lanchonete que servia suco natural de mangaba. Não resisti. Parei novamente e pedi um, com uma coxinha de galinha para acompanhar. Cristóvão parou comigo. Foi então que um casal de goiânia passou pedalando e perguntou-nos o caminho para o Frota. A moça disse que tinha GPS, mas pelo jeito não sabia usar. Expliquei-lhes o caminho e eles seguiram.
Terminado o segundo lanche, voltamos à atividade. A escalada do Morro do Frota é um belo desafio. Não é como subir o Mirante do Ventilador (que hoje só descemos), que é longa e desgastante. A subida do Frota é curta e muito íngreme. É 1,5 quilômetro com inclinação média de 10%. Com dores nas costas e câimbras, Deny resolveu voltar para Piri e esperar resgate.
Subi e esperei os amigos no alto. Foi aí que o casal de goiânia apareceu novamente. Eles haviam se perdido na subida. Definitivamente, não sabiam usar o GPS. Eles procuravam uma cachoeira para terminar o pedal, então, dei-lhes informações sobre a Cachoeira das Araras e dos Macacos. Eles decidiram ir para a Cachoeira dos Macacos, que era também nosso caminho.
Agora, nosso destino era a Serra do Pedro, esse sim, o maior desafio do X Piriporra. A estrada adentra a mata, cruza alguns riachos a vau e vai ficando cada vez mais inclinada. É daquelas subidas que aceleram nosso coração e nos força a colocar o peito no guidão pra bike não empinar. A inclinação máxima do trecho é de 21%. É muita inclinação!
Subi sem pensar no cansaço e parei no alto, depois de passar por uma porteira. Enquanto esperava, sentado à sombra do cerrado e suando em bicas devido ao esforço, eu só pensava em banhar-me no Córrego Catingueiro, que é atravessado a vau pela BR-070, bem próximo à Cachoeira do Coqueiro, que estava a oito quilômetros de distância. Fiquei descansando e observando quem chegaria primeiro, pensei que seria Cristóvão, que estava logo atrás de mim no início da subida, mas, para minha surpresa, quem chegou foi o casal de goiânia. Eles estavam sem destino, pelo jeito, e resolveram nos acompanhar.
Entrei no single final para concluir a subida de Serra do Pedro. É uma trilha cheia de pedras soltas pelo meio do cerrado, com um colchete no meio. Terminei de subir e esperei no alto. Quando a turma chegou, resolveu descansar. É muito descanso pro meu gosto 🙂 Segui sozinho.
O alto da Serra do Pedro é pura pedra e areia. Há várias trilhas paralelas que percorrem o alto da serra até começar a descer do outro lado, para acessar a BR-070. Soube depois que o amigo Sérgio “Magneto” Madureira, ao passar por ali, devido a sua forte atração magnética, foi puxado pelo chão e caiu de cara. Será que Levi “Xavier”, além de telepata tem habilidade de premonição? Sozinho, apesar de machucado e sangrando, não houve alternativa para Sérgio além de continuar pedalando até a BR-070, onde conseguiu uma carona até Cocalzinho. O amigo passa bem e recupera-se no Instituto Xavier (casa do Levi), aos cuidados de Zeka, o cãozinho de Levi, que lambe regularmente os ferimentos de Magneto, e seja lá mais o que esteja doendo, para acelerar a cura.
A descida do outro lado da serra passa por dentro de uma fazenda, pela sede, abrindo porteiras e passando pelo curral. Depois é só atravessar o Córrego do Lázaro a vau e subir até a BR-070. As serras vizinhas compõem bela paisagem e a BR avança pelo meio delas.
Chegando na BR, que não tem asfalto, segui no sentido de Cocalzinho até chegar ao Córrego Catingueiro, onde finalmente pude tomar um banho e espantar o calor. Visto da BR, o Pico dos Pirineus destaca-se entre os morros da serra. Não é à toa que, no final do século XIX, acreditava-se que esse pico era o ponto mais alto do Brasil com 3 mil metros de altitude. Mas a questão foi resolvida depois da visita da Missão Cruls: na verdade, o Pico dos Pirineus tem apenas 1.385 metros de altitude.

Trinta minutos depois, já passando frio dentro do córrego, o pelotão da cozinha chegou. As notícias que eles traziam não eram boas. Primeiro, sobre o acidente do Sérgio. Segundo, ninguém do pelotão iria encarar a arremetida final, que cruzaria o Parque dos Pirineus por caminho inédito para mim. Eles decidiram seguir pela BR até Cocalzinho.

Então, segui solitário. A trilha continuou pela BR-070 por mais cinco quilômetros. Nesse trecho, além do Córrego Catingueiro, atravessei o Ribeirão do Inferno duas vezes, sempre pelo vau.
Entrei, então, no trecho inédito. A estrada é estreita, mas carros passariam sem problemas. A estrada começa ao norte do parque e segue sentido sudeste. Logo no início, encontrei um cajueiro com alguns cajuzinhos bem maduros. Sinal de sorte. Comi os cajuís e continuei a trilha.

O cerrado ficou para trás à medida que a umidade do terreno aumentou. Adentrei na mata ciliar de pequenos córregos que brotam no entorno dos picos. Há uma porteira antes da ponte e placa indicando que ali começa o parque.
A estrada passa por um lado não tão conhecido do parque. Cruzado o riacho, logo à frente há uma linda lagoa que reflete os picos. Visão singular.

Logo comecei a subir no sentido da estrada principal do parque. Trovões ecoavam pela serra, vindos de Pirenópolis. Seria Júnior Porra usando seus poderes de “Tempestade”, querendo atrasar minha travessia?
Passei pela administração do parque e continuei subindo, até alcançar a estrada principal, bem em frente ao Morro Cabeludo. Continuei meu caminho em direção à saída oeste e desci a serra de volta à BR-070. Essa travessia do parque tem nove quilômetros de comprimento.
Ao chegar na BR, olhei para oeste e lá vinha o pelotão da cozinha. Esperei-os e seguimos juntos para completar a trilha. A maioria estava tão cansada que, ao ver o asfalto no bairro Cidade de Deus, seguiram por ele e abandonaram o tracklog oficial, perdendo as surpresas que Wilmar “Ciclope” reservou para o final.
Seguindo pela BR, a estrada cruza o Rio Corumbá a vau. A cidade já chegou à margem esquerda do rio. Antes fazer a travessia, Cristóvão mais uma vez parou para atender o telefone. Todos nós atravessamos o rio, a não ser Cristóvão, sempre ele. Desisti de esperar o amigo e segui meu caminho, afinal, Cristóvão ficaria na cidade, onde estava seu carro.

Seguimos pelas últimas ruas da cidade até sair da área urbana e entrar em estradas de sítios que nos levariam de volta ao Posto Serra. Iran seguiu comigo. O lugar estava muito mudado. O terreno havia sido preparado para plantar e algumas estradas mudaram de lugar. Além disso, havia cercas elétricas por todo lado. Passamos com muito cuidado, desviando das cercas. Nós passamos sem problemas, mas Wilmar, que passou mais cedo, foi abordado pelo proprietário da área que disse que não quer ninguém passando por lá.

Finalmente, deixando a área das cercas elétricas, atravessamos pastagem, pulamos porteira e chegamos ao posto por estrada de chão.
O meu ver, foi o melhor percurso do Piriporra até hoje. Foi também um dos que mais aproveitei, seguindo com o pelotão da cozinha.
Parabéns, Júnior. Desejo-lhe muitos anos de vida e muitas aventuras. Parabéns, Wilmar, pela organização.
No fim das contas, eu pedalei 75 quilômetros, com 1.633 metros de subida.
Muito obrigado meu amigo como sempre excepcional narrativa do décimo Piriporra que Deus nos permita a muitos outros Piriporras 🙏💪🚴♀️🍺🎸🙏
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Foi mais um Piriporra maravilhoso, fico sempre muito feliz em receber o convite para comemorar o aniversário do Júnior. Grata por te feito parte do evento e felicitar o Júnior pessoalmente, um amigo incrível!
Esse ano de 2020 o percurso fez jus ao nome piriPORRA! Foi difícil concluir tantas subidas serras e singles, mas foi gratificante!
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Eu sempre quis fazer parte desse bonde, lendo esse lindo relato detalhado, me senti dentro dessa edição, fui do Pedaguas anos atrás e pude conhecer o Júnior porra ! Kkkkk Quem sabe ano que vem estarei junto no 11º Piriporra, Deus abençoe à todos e que tenhamos saúde para muitas aventuras como essa. @fabaomtbbrasil
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Parabéns pelo relato Evandro! Obg por me incluir. Adorei as comparações com os super heróis. Ficou muito legal!
Vida longa aos grupos – PEDAGUAS, Tombos do Cerrado e ao Ser Pedalante!
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