por Evandro Torezan
Brasília, 9 de agosto de 2014
http://www.strava.com/activities/177876176
Seca instalada com força total no Planalto Central. Mas pedalar é preciso e, para isso, o Pedáguas reuniu-se em Brazlândia para um pedal insano. A junção de duas trilhas, as pesadas Google e Morada da Serra, resultou numa trilha muito difícil, que chamamos de Google da Serra.
Eu fui de carona com o amigo Dario, de carro, até o estacionamento do hospital de Brazlândia. Rogério e Rodolfo chegaram pedalando, vindos de Ceilândia, o que alongou o percurso em cerca de trinta quilômetros. O grupo de ciclistas ficou assim: Fabiana Gumprich, Karina Danieli, Rogério Prestes, Rodolfo, Amantino, Carlos Enrique, Dario, Agamenon, Felipe, eu e mais alguns que não me lembro do nome. No total éramos 15 pessoas.
Partimos às 8h. Cruzamos uma parte da Flona que fica na frente de Brazlândia, rumo à comunidade Padre Lúcio, localizada logo depois do Rio Descoberto, já em Goiás. O Governo de Goiás resolveu acabar com parte de nossa festa, asfaltando a estrada principal da comunidade. Perdemos cerca de cinco quilômetros de estrada de chão.
A turma da dianteira parou para agrupar no final do asfalto, antes da Descida do Areal. Um dos ciclistas já tinha ficado pra trás. Sinal de que ele sofreria muito durante o dia.
E tome descida. Dali até o ponto mais baixo da trilha são 23 km, com algumas poucas subidas e muitas descidas. Mergulhamos na poeira levantada pelos caminhões. Nessa época do ano, as estradas de chão com muito tráfego ficam cobertas com uma poeira bem fina, que chamamos de talco. Quando os caminhões passam, levantam uma nuvem densa desse pó, que prejudica a visão e a respiração.
Na baixada, acompanhamos por vários quilômetros uma linda cadeia de morros, que fica ao norte. Elas estão depois do Rio Verde, que corre paralelo à estrada que seguimos.

Em uma hora nós já estávamos na Baixa do Rio Verde, comunidade da região que marcou o ponto mais baixo da trilha.

Depois de alguns quilômetros de estrada pelo meio dos sítios da região, entramos num single subindo o morro. O single segue pelo meio do cerrado, cujas árvores perdem quase todas as folhas durante o período seco. As folhas secas no chão, além de esconder buracos e pedras, deixam a trilha escorregadia. Qualquer vacilo leva-nos ao chão e vários ciclistas caíram. Esta foi a melhor parte da trilha. O single sobe o morro e chega num mirante, de onde a vista estava linda, mesmo com toda essa seca.

Ipês roxos decoravam o morro à nossa frente.

A saída do mirante é por uma estrada erodida onde é preciso analisar muito bem o terreno antes de escolher um dos vários singles para seguir. Logo depois, começa uma escadaria de pedras na sombra da mata. Nesse single, escolhido o caminho correto, é possível passar pedalando, senão, algum degrau vai pará-lo e você terá que empurrar a bike até o final da escadaria.
Logo depois, tivemos que cruzar um riacho e aproveitamos para pegar água. Eu ainda tinha muita água no meu camelbak, mas, quem levou só caramanhola, teve que reabastecer. Felizmente, o riacho é limpinho e sua nascente é bem próxima, no meio da mata, jorrando água potável.

Alguns colegas já estavam muito cansados. Quando nos aproximávamos da subida da Morada da Serra, aquele ciclista mais cansado, o que ficou para trás logo no começo, nem tentou subir. Tomou logo o caminho de Girassol e disse que daria um jeito de voltar para casa.
A subida da Morada da Serra é um judiação, ainda mais nessa época do ano em que a estrada está coberta de pó. Subi firme, tentando zerar, mas o pó era tanto que, numa das partes mais íngremes, a bike escorregou e tive que colocar o pé no chão. Aproveitei para deixar os batimentos cardíacos baixarem, mas nem desci da bike. Nisso, Fabiana passou por mim. Mulher bruta!
Com os batimentos restabelecidos, continuei a subida. Fui o terceiro a chegar ao final, depois de Fabiana e Rodolfo. Apertamo-nos na única e mirrada sombra que há no alto. Eu aproveitei para comer meu lanche enquanto aguardávamos o restante da turma chegar.

Turma reunida, voltamos ao pedal. Saindo dali, depois de alguns poucos sobes e desces, começa uma descida alucinante de dez quilômetros. Foi uma corrida desembestada daquele bando de malucos. Só paramos num bar num entroncamento de estradas de chão, depois de atravessar alguns belos trechos de mata fechada. Nessa descida desenfreada, perdemos mais um dos componentes de nosso pelotão. Soubemos depois que pegou uma estrada errada e foi parar em Águas Lindas. De vez em quando perdemos alguns ciclistas. Grupo grande é assim mesmo. 🙂
No bar, entre coca-colas e paçocas, um papagaio observava-nos curioso e gritava pedindo comida.
Descansados, voltamos ao pedal para escalar a longa subida até Brazlândia! São quatorze quilômetros com a roda dianteira apontada para cima. Aí o grupo dispersou-se.

A poeira da estrada, levantada pelos caminhões, deixou uma árvore lindamente decorada, com as folhas beges.


Fomos chegando aos poucos em Brazlândia. A cara empoeirada dos colegas refletia o misto de alegria e sofrimento vivido neste dia de pedal. Garantimos apenas duas baixas de ciclistas durante a trilha toda. Sucesso! 🙂
Resumindo: 69 km de trilha, 1288 m de subida acumulada, duas baixas.
Show de bola!!! Parabéns pelo relato, Evandro! Deus é fiel!
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Fala Evandro! Fantástica a aventura, brilhante a narrativa, como sempre. Faltou só o tracklog para que a gente possa ver no Google Maps, e quem sabe um dia, reproduzir essa trilha.
Abraço.
Ricardo/Botucatu/SP
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Muito legal! Parabéns!!
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