Pedal da Serra – 08/03/2009

Brasília, 8 de março de 2009

Competição em Sobradinho, válida pelo Campeonato Brasileiro de Mountain Bike, e como o nome diz, mountain bike mesmo. A cidade de Sobradinho, a 20 kms de Brasília, é conhecida como a cidade serrana do DF, e faz jus ao seu apelido.

Durante toda a semana o Sol prometia acabar com o ânimo dos bikers. Inclemente, cozinhava os miolos de quem se arriscasse ao Sol. E foi pensando nesse clima que me preparei para a prova. No dia anterior fiz uma sobrecarga na minha alimentação, com muito carboidrato. Preparei 2 litros de bebida repositora e enchi meu Camelback, além de uma caramanhola com água de lambuja. Levei muitas barrinhas de cereal e tomei um café reforçado antes da prova. Desta forma, estava preparado para percorrer os 80 Kms da prova embaixo do Sol.

O Valderi passou em casa às 6h30 e embarcamos para Sobradinho. Já no caminho fui tentando convencê-lo a fazer os 80 kms comigo. Eu queria correr, pra ver em que posição chegaria, mas com o andamento da conversa me comprometi a acompanhá-lo. Enquanto esperávamos, o tempo foi fechando. Nuvens pesadas cercaram Sobradinho e logo trovões, relâmpagos e muita água caíram do céu. Os bikers se abrigaram onde puderam. Trinta minutos de chuva forte encheram as ruas de água. Por volta das 9h30, com um leve chuvisco ainda caindo, a prova começou. Eu e o Valderi fomos na chamada “pipoca”, em que os bikers fazem o percurso da prova sem pagar a inscrição e sem concorrer a nada. Saímos pelas ruas de Sobradinho embaixo de chuva, rumo à zona rural da cidade. A largada oficial da prova foi numa estrada de terra, que foi tomada pelos ciclistas. Quando a buzina tocou, a elite saiu voando e nós fomos pipocando atrás.

Tudo começou bem, com muito estradão. Na primeira descida forte, um ciclista levou um tombo e foi rapidamente atendido pelos brigadistas da prova. Depois, o estradão foi virando estradinha e, numa porteira, entramos num longo single. Single veloz, pelo meio do cerrado, no começo uma descida técnica e depois, só velocidade pelo meio do mato. Essa trilha é conhecida como Mugy, que é o nome da fazenda onde ela fica. Foi assim que chegamos na DF-205, na região da Fercal. Este era o local onde bifurcavam as duas provas, quem iria fazer os 40 km seguiu à esquerda e nós fomos à direita. Poucos quilômetros de asfalto depois, chegamos no trevo do Córrego do Ouro e entramos nele. Ali deixamos o asfalto e entramos na terra. Novamente estradão, mas com muita subida. E estas subidas foram a marca registrada da prova. Foram muitas, de vários tamanhos e dificuldades. Esta região, do Córrego do Ouro, é muito acidentada e de cara exigiu força dos competidores. Duas ou três subidas depois, o Valderi já começou a reclamar de dores nas pernas. E fomos subindo, cada vez mais alto, passando por lugares incríveis, de visual fantástico.

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Foto de Lucas Lopes – Cidade Livre MTB

Uma descida bem íngreme nos levou ao povoado Córrego do Ouro. Foi nas proximidades dali que avistei dois morros que chamaram muito minha atenção. Morros altos, com pedras expostas no topo. Colunas de pedra se destacando no cume. Depois fiquei sabendo que é o Morro da Pedreira, também conhecido como Pedra do Urubu, local frequentado pelos alpinistas do DF.

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Depois de passarmos pelo Morro da Pedreira, entramos numa área mais selvagem da prova. Trechos de mata fechada, riachos, comunidades isoladas. A última vez que eu tinha visto o Valderi foi no Morro. A esta altura da prova, o calor estava nos matando. Quando passei pelo primeiro riacho, não aguentei, desci da bike e mergulhei na água, com Camelbak e tudo. Ô coisa boa! Com o corpo molhado, peguei a bike e continuei o caminho. Depois de alguns quilômetros morro acima, senti alguma coisa vibrar na minha mochila. Foi aí que lembrei que meu celular estava lá. O celular tinha molhado e entrou em curto. A bateria estava muito quente e vibrava sem parar. Desmontei o celular e guardei-o. Depois disso ele nunca mais funcionou direito. Fiquei no topo esperando o Valderi chegar. Foram cerca de 20 minutos esperando.

Chegamos na comunidade Catingueiro, nas entranhas dos morros de Sobradinho. Algumas crianças vendiam sorvetes. Paramos e compramos picolés. Seguimos a passo de tartaruga. Valderi estava acabado, fritinho. Estávamos fechando a trilha. Ninguém mais passava por nós.

Depois de muito pedal, chegamos num asfalto. Depois pegamos uma estrada de chão que nos levou de volta à Fercal, nas proximidades do restaurante Caldeirão da Serra. Faltava pouco. Começamos a subir pra Sobradinho. Um single bem técnico foi subindo, por entre árvores, valas, morros. Valderi vinha empurrando, e eu pedalando. Subi até o final, onde havia um caminhão que veio limpar a trilha. Disse que tinha um rapaz muito cansado comigo e eles resolveram esperar um pouco. Quando o Valderi viu o caminhão deu até uma acelerada. Veio correndo e já foi pedindo carona. Eu queria continuar, mas a turma do caminhão disse que eu iria passar numa comunidade perigosa, e pediu que eu também fosse de carona. Assim, subimos no caminhão. Valderi foi pegando os pães que haviam sobrado, alimento dado ao pessoal da organização, e foi comendo feito doido. Acho que ele comeu uns cinco pães, secos, sem nada no meio.

Assim, na carroceria de um caminhão, terminamos a prova. Quando chegamos em Sobradinho, a premiação estava terminando.

Que trilha dura esse tal de Pedal da Serra. Os 40 km já eram difíceis e eu e o Valderi fomos inventar de fazer os 80 km. Teve muita subida na região do Córrego do Ouro e aquele morro técnico no final serviu pra acabar com o restinho de pernas que nos restava.

Mas apesar disso, a trilha foi linda e fez jus ao nome de “Pedal da Serra” pelo clima na largada e pelos morros do caminho.

E esta é a história do dia em que um malvado paranaense judiou de um inocente piauiense. Depois disso o piauiense ficou mais de um ano sem pedalar, dizia que gostava mesmo era de correr. Acho que ele teve até que fazer terapia para voltar a montar numa bike.

No total, rodamos 65 kms.

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