Pirenópolis, 8 de janeiro de 2021.
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Depois de um dia de descanso, já recuperado do pedal de 6 de janeiro, quis logo fazer a trilha mais difícil que havia planejado: Várzea do Lobo. Para minha esposa Leidiane, seria o maior desafio ciclístico já enfrentado.

Acordamos sem pressa, preparamos nosso café e partimos às 8 horas da manhã. Logo de cara enfrentamos a maior escalada do dia: a subida do Mirante do Ventilador. A subida começa ainda no asfalto da Rodovia Municipal Parque dos Pirineus, na ponte sobre o Rio das Almas, e logo depois entra na terra, percorrendo 4,7 quilômetros até o mirante, ganhando 350 metros de altitude. Quase no topo, um veado atravessou a estrada. Pelo tamanho, parecia ser um veado-catingueiro. Estava com sorte para avistar animais silvestres. Fizemos rápida parada no mirante para fotos.

Estava ventando muito, fazendo jus ao nome “ventilador”.
Continuamos subindo por 3,4 quilômetros com mais 143 metros de ascensão, até a estrada da Cachoeira do Coqueiro. Bem próximo à entrada há uma pequena capela de Nossa Senhora das Graças.

Há também uma torneira onde sempre pegamos água. Canarinho simpático estava por lá, também querendo água, mas não tivemos sorte dessa vez pois a torneira estava seca.
Descemos a serra, passando pela entrada da cachoeira, até chegar à BR-070, que pegamos à direita, seguindo no sentido de Cocalzinho, passando por vários trechos de floresta.
Pela BR, cruzamos o Ribeirão do Inferno duas vezes pelo vau antes de chegar à estrada da Fazenda Dois Irmãos, que segue pelo alto da Serra do Catingueiro, uma chapada de topo arenoso, solo branco, que na época da seca fica ruim de percorrer devido à quantidade de areia solta. Pelo menos, a vista da Serra dos Pirineus compensa.

Paramos sob uma árvore para descansar, com vinte quilômetros percorridos. O dia estava bem quente e Leidiane vinha bebendo muita água, o que começou a me preocupar pois eu não sabia se haveria pontos de reabastecimento.

Percorrer a Serra do Catingueiro proporciona belas paisagens ao passante. Descemos a serra para bordear as nascentes do Rio Corumbá. Essa região é um divisor de águas continental.

O Rio Corumbá pertence à bacia do Rio Paraná, e as águas que brotam ali, ao norte da estrada, vão desaguar no Oceano Atlântico, no Rio da Prata, entre Argentina e Uruguai. Já o Córrego Catingueiro, que nasce ao sul da estrada, segue seu curso até o Rio das Almas, e vai alimentar a bacia Tocantins-Araguaia, desaguando também no Oceano Atlântico, mas ao norte, na Ilha de Marajó.
Depois de passar por esse vale entre-serras, subimos, do outro lado, a Serra do Macaco. Aos 29 quilômetros, começamos a descer o vale do Ribeirão Dois Irmãos. É uma longa descida até as margens do córrego. Seguimos as trilhas à margem do ribeirão. Cruzamos um tributário do Dois Irmãos pelo vau, o Córrego Barreiro.
Depois passamos por duas precárias pontes de troncos finos. A primeira delas está um pouco deteriorada, com troncos soltos e quebrados. A segunda ainda está boa.
Chegamos ao local da Cachoeira das Freiras. Está sendo construído um restaurante. Os operários nos indicaram a trilha para chegar à cachoeira. Descemos com as bikes até a beira do rio.
A Cachoeira das Freiras fica no Córrego Dois Irmãos. Ela possui duas quedas principais que têm aproximadamente quatro metros cada.

A primeira deságua numa fenda estreita e muito perigosa onde não é recomendável entrar. A segunda deságua num grande poço de águas esverdeadas. Eu já conhecia a cachoeira e confesso que nunca a tinha visto com tanta água. Não havia ninguém por lá. Tomamos banho, lanchamos e descansamos.

Na saída, pegamos água de uma mina, que foi canalizada até o local da obra do restaurante.
A saída do vale é uma difícil subida. Já foi muito pior. Na primeira vez que passei por lá, a subida era bem mais direta e o local só era acessível para carros 4×4, motos, bicicletas e caminhantes. Agora que estão preparando o local para receber turistas, a estrada foi “melhorada” para dar acesso a carros de passeio. Ela faz mais zique-zagues para conseguir vencer o escarpado vale do ribeirão. Pensei que Leidiane iria sofrer e reclamar para subir aquilo, mas que nada, essa mulher é surpreendente. Subiu tudo pedalando sem pestanejar.

Alcançamos outra estrada no final do vale, mas continuamos subindo por alguns quilômetros até, finalmente, chegar ao local que dá nome à trilha: a Várzea do Lobo. A região conhecida como Várzea do Lobo engloba duas grandes veredas, nascentes do Ribeirão das Araras. É um lindo vale! Há algumas pedreiras que parecem desativadas, mas a natureza vem se recompondo. A vista das veredas desde o alto do vale é fantástica. Delas, brotam águas cristalinas que formam cachoeiras lindíssimas, como a do Rosário, a Cristalina, a do Lobo, a da Laje e a Paraíso.

Apesar do nome da trilha ser Várzea do Lobo, nossa permanência na várzea foi rápida, percorremos apenas seis quilômetros pelo vale. No quilômetro 44, logo depois de passar pela entrada da Cachoeira Paraíso, entramos numa trilha single à esquerda. Teríamos que cruzar a Serra das Araras, para alcançar o vale do Córrego Limoeiro e chegar à Cachoeira das Araras, onde poderíamos tomar alguma coisa no bar. O caminho mais curto é por esse singletrack que cruza a serra. Entramos nele. É caminho antigo, usado agora apenas por cavaleiros, ciclistas e caminhantes amantes da natureza. Como não passam veículos motorizados, há vários obstáculos a serem vencidos. No começo, a trilha é aberta, mas, depois de algumas centenas de metros, ela adentra no cerrado e vai estreitando, passando por árvores caídas, pequenos riachos, pedregulhos, valas.
Leidiane não gosta desse tipo de caminho. Ela vinha bem, mas eu sabia que ela estava tensa. De repente, alertou-me: “Estou tendo uma crise de pânico, não consigo respirar.” Paramos. Expliquei-lhe exatamente onde estávamos e onde chegaríamos. Ela descansou e acalmou-se. Voltamos a pedalar. Mantive-me o mais próximo possível, para evitar outra crise, mas não resolveu. Faltando apenas cem metros para sairmos da trilha fechada, outra crise: “Evandro, me ajuda.” Larguei a bicicleta e voltei correndo. Tivemos outra sessão de terapia: “Calma, faltam apenas cem metros e sairemos do mato. Respire.”
Depois desses sustos, até eu, que adoro singletracks, queria que acabasse logo. Assim, cruzamos a cumeeira da Serra das Araras e passamos por uma pedreira abandonada que marca o final do single.
Leidiane acalmou-se quando chegamos à estrada. Mais 750 metros de pedal e chegamos à Cachoeira das Araras. Fomos ao bar que fica em frente à cachoeira e compramos água de côco.

Descansados, continuamos. Atravessamos o Córrego Limoeiro pela ponte pênsil e dois quilômetros depois chegamos à rodovia GO-338, por onde seguimos até Pirenópolis (dezoito quilômetros de asfalto).

Depois de passar pela Igreja do Rosário e tirar algumas fotos, paramos numa açaiteria para espantar o calor da tarde. Completamos a trilha na Quinta do Rosário, com direito a banho de piscina. Rodamos 74 quilômetros com 1.576 metros de ascensão.

O jantar foi no Restaurante e Cachaçaria do Dill, na Rua do Lazer. Ele está vendendo meus livros e fui lá dar uma conferida no estoque.
Massa demais o relato dessa rota incrível! Abraço!!!
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Excelente Evandro fico feliz por ver a Leidiane pedalando e quebrando recordes de resistência. Parabéns ao casal amigo 🙏🏼💪🏼🚴🏻♂️🚴🏼💪🏼🙏🏼
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