Brasília, 4 de novembro de 2017
Percurso oficial: https://www.strava.com/activities/1261212759
Novembro é um mês muito aguardado pelos amigos de José Teixeira Marques Júnior, o Júnior Porra. Desde 2010 comemoramos seu aniversário com um pedal para Pirenópolis, o Piriporra. Mais uma vez, o organizador do evento foi Wilmar Castro.
Em meados de setembro a turma começa a movimentar-se. O grupo Tombos do Cerrado passa a pedalar com mais regularidade. Desta vez, 40 ciclistas toparam a aventura.
Quando acordei, às 3h30 da madrugada, chuviscava. Preparei minha tralha e deixei o corta-vento a postos. Quando saí, às 4h30, a chuva tinha cessado. Pedalei até o Posto Melhor, sem pressa. Duas vans nos esperavam. Bikes embarcadas, ciclistas também, partimos rumo a Cocalzinho de Goiás.
Eu dormi praticamente a viagem toda. Só acordei quando o assunto na van era minha recente participação no quadro “Esporte e Aventura” na CBN.
Às 7h30 chegamos em Cocalzinho. Paramos ao lado da Distribuidora de Bebidas Oliveira, que abriu por volta de 7h40. Desta vez, a iguaria preferida dos ciclistas que passam por Cocalzinho, o disco de carne, não estava disponível. Deu até dó de ver a cara do Japa sem seus amados discos.
Depois dos avisos de Wilmar e Júnior, cantamos o tradicional parabéns do “partiu” (“Pro Júnior nada? POOOORRAAAAA!”), pedimos proteção a Deus e partimos.
Cruzamos a comprida cidade até seus limites e entramos na terra. Seguimos pelas estradas de chão rumo à Cidade de Pedra.
Os grupos se dividem logo no começo. Os apressados disparam na frente. A turma do “deixa a vida me levar” segue sem compromisso. E a turma do fundão, segue capitaneada pelo Júnior. No início, segui na frente com Wilmar. Minha bike estava com um barulho chato no canote. Lá pelos cinco quilômetros de trilha, parei para lubrificar as peças e tentar diminuir o rangido. Fiquei isolado entre os pelotões. Segui pedalando sozinho por vários quilômetros. Só na Cidade de Pedra reencontrei um grupo. Era o Rogério Rodrigues com alguns ciclistas que frequentam os pedais noturnos do Pedáguas.
Não entramos na Cidade, mas pudemos observar o cerrado preservado que há por ali. Dá gosto ver algumas árvores de grande porte que resistem bravamente às queimadas constantes.
Nesta época, pós-seca, a explosão de vida que se vê no cerrado impressiona. Flora e fauna em plena época reprodutiva, frutos variados, flores. Pelo caminho fui encontrando pés de mangaba aos montes. Para consumir a mangaba na trilha, não adianta tirá-la do pé. É no chão que ela elimina todo o leite e chega ao ponto ideal de maturação para consumo. É uma explosão de sabor inigualável. Os cajuís já não estavam em plena safra. Havia poucos, mas o ciclista atento não passou o dia sem comer pelo menos um. Cagaitas eu encontrei dois pés, das graúdas. Já o pequi, foi presença constante. Eles estavam em todas as estradas, caídos no chão, ainda verdes.
Outra coisa muito interessante neste pedal: os tipos de solo. Passamos por trechos de terra vermelha, de terra branca, de areia, de pedras soltas e, o mais interessante, lajeados. Após a Cidade de Pedra há um longo trecho em que a estrada não tem terra nem areia, apenas lajes. O solo raso, ainda presente nas margens, foi levado pela chuva. Restou o lajeado exposto, de Pedra Goiana (Pedra de Pirenópolis). Esta parte exige atenção e habilidade para subir e descer escadarias, evitando as quinas afiadas de rocha que poderiam cortar os pneus.
No quilômetro 30, entramos à direita para descer a Várzea do Lobo. Não estava como no ano passado. Patrolaram a estradinha esburacada que adorávamos. Sem obstáculos, descemos seguros, mas sem diversão. Apesar disso, a vista continua linda. Chegando no fundo, na várzea, seguimos pelos singles que circundam a mata ciliar, passando pelas balançantes pontes de troncos, terror de alguns ciclistas. Cruzamos o rio, subimos um pouco e chegamos na Cachoeira das Freiras. Ali foi nosso primeiro ponto de apoio.
Caminhei pela trilha até a cachoeira mas não entrei na água. Os borrachudos não deixavam ninguém sossegado.
Não demorou muito para o carro de apoio chegar, com frutas, água, rapadura, batata cozida com azeite, uma surpresa agradável preparada pelo atencioso Wilmar. É incrível o que ele consegue fazer com apenas dez reais que pagamos além do preço da van.
Terminado o lanche, partimos. Dez quilômetros de subida pesada nos esperavam. Sair da várzea é uma tarefa difícil. O ciclista põe à prova suas pernas, sua resitência, sua resiliência. Vencer a subida da várzea dá prazer e a vista compensa o esforço. No alto, encontramos a incrível e desconhecida paisagem do interior de Goiás.
Finda a subida, seguimos em direção à BR-070. No caminho, às vezes passamos tão rápido que não nos damos conta de algumas preciosidades do cerrado. O morro pedregoso coberto de canelas-de-ema passa despercebido. O chapéu-de-couro de 1,5 m é apenas mais um arbusto entre tantos.
Chegamos na 070. É na BR que desenvolvemos a maior velocidade do dia. Nela, passa-se a vau por quatro riachos. No segundo, paramos para almoçar e tomar um banho de rio. Já era mais de meio-dia.
Logo chegou Wilmar, que molhou-se no rio e seguiu. Ficamos cerca de 30 minutos parados. Quando saímos, chegou o Arara, irmão do Júnior, trazendo o pelotão goianiense. Nossa próxima parada foi na travessia do riacho da Cachoeira do Coqueiro, onde nosso carro de apoio nos esperava. A cachoeira era um ótimo ponto de banho, mas há dois anos, o proprietário da área fechou o acesso e agora cobra entrada. Agora, temos que parar no riacho.
Enquanto os amigos goianienses desfrutavam de nosso carro de apoio, segui meu caminho. Não conhecia totalmente o trecho à frente. Sempre que passei por ali, entrei na Fazenda Portal do Lázaro, mas desta vez, segui em frente pela BR-070. Os enormes paredões rochosos à direita são presença constante.
Passei por outro rio a vau. Segui por longo trecho só, até encontrar os amigos Murilo, Jefferson e Reinaldo em uma encruzilhada. Logo depois, encontrei também Alisson e Levi. Levi havia levado um tombo e estava meio alterado, discutindo com seu grande amigo Alisson (DR, talvez).
Eu estava querendo terminar a trilha, e segui no meu ritmo. Quando ia entrar à esquerda na estradinha para subir o Morro do Frota, ouvi alguém me chamar. Era o Reinaldo. Ele queria entrar na estrada anterior. Sorte que eu estava ali para orientá-lo, senão, teria se perdido.
Passei pela porteira e segui em diante. O caminho ali ficou truncado. Passa-se por várias propriedades. Numa delas, por dentro do quintal. Esta área tem muito cerrado, como a maior parte das imediações de Pirenópolis. Aliás, a natureza desta cidade goiana é o seu grande atrativo. Cachoeiras, morros, picos, matas, paisagens rupestres únicas. Se quiser manter sua vocação turística, Pirenópolis deveria cuidar cada vez melhor de sua natureza, do seu cerrado, fonte de vida, fonte de água de suas lindas cachoeiras.
Cheguei ao alto do Morro do Frota. Uma estrada subindo em direção às antenas que ficam no cume desanimam os que a avistam. Felizmente, nosso caminho não seguiu até ela. Um cajuizeiro me presenteou com frutas maduras e doces antes de começar a descer.
A descida do Frota é radical. Exige técnica dos que soltam o freio, e força dos que o acionam.
Há poucos quilômetros a cidade, encontrei cerca de dez pessoas colhendo pequi. Traziam sacolas, sacos e mochilas cheios desta deliciosa iguaria. O pequi é uma fonte importante de alimento e de renda para algumas famílias.
Cheguei na cidade. Encontrei os amigos comemorando o pedal num bar à beira do Rio das Almas. Ali matei minha sede.
Cada um deu seu jeito para tomar banho. Uns foram ao rio, uns num restaurante, outros numa pousada, que nos cobrou dez reais pelo banho.
Nem todos fizeram o caminho previsto. Alguns subiram pela estrada da Cachoeira do Coqueiro e chegaram em Pirenópolis pelo Mirante. Outros seguiram em frente na BR-070 até encontrar o asfalto.
Júnior trouxe a cozinha ordeiramente pelo caminho correto. Tenho certeza que é o pelotão mais animado. Na chegada, o que não falta é cerveja pra essa galera.
Almoçamos na Rua do Lazer por volta das 16h e às 18h pegamos o caminho de volta. A bagunça na van número um, a do Júnior, foi tanta que o motorista desistiu de dirigí-la. Júnior é Heavy Metal! Só rock pesado. Já na van número dois, também pesado, sono pesado!
Nossa única parada foi no posto de combustíveis de Edilândia, onde finalmente encontramos os deliciosos discos de carne. Foi uma luta conseguir alguns. Teve até fila.
E assim foi o sétimo Piriporra, com muita diversão, amizade e comemoração.
Parabéns, Júnior Pooooorraaaaaaa!
Só voçê mesmo amigo presida, fazer uma narrativa com esta. Parabéns para todos nós de ter voçê ao nosso lado. Obrigado
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Obrigado, Júnior. É sempre um prazer comemorar seu aniversário fazendo o que mais gostamos.
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