Salto do Tamanduá – São Jerônimo da Serra/PR
Londrina, 20 de abril de 1999
Véspera do feriado de Tiradentes. Numa tarde de trabalho normal na Múltipla Informática, mergulhados em códigos-fontes de softwares, Jaime, Fábio e eu conversávamos sobre a falta do que fazer no feriado. O salário que recebíamos inviabilizava qualquer pretensão mais extravagante. Foi então que o Jaime propôs: “Vamos pra fazenda do meu tio?”. O tio dele tinha uma fazenda em São Jerônimo da Serra, a cerca de 130 kms de Londrina. Topamos. Às 18h saímos da empresa e cada um foi pra sua casa se preparar para a viagem.
Juntei minhas coisas em casa, nada mais do que a câmera fotográfica e uma troca de roupa, e fui pra casa do Jaime. Iríamos com o meu Gol. De lá, fomos buscar o Fábio e depois passamos no Carrefour para comprar os suprimentos para o final de semana. Nesse vai-vem, perdemos muito tempo e só pegamos a estrada às 21h.
A parte asfaltada do caminho foi tranquila e em menos de uma hora percorremos os 100 kms de estrada. Seguimos pela PR-369, sentido Ibiporã, passamos por Jataizinho onde entramos na PR-090, que nos levou a São Jerônimo da Serra. Daí pra frente era estrada de chão até a fazenda. 15 kms de poeira e chegamos no pequeno distrito de Terra Nova, um povoado de poucas casas no meio do caminho. Daí pra frente o caminho ficou mais perigoso. Seguíamos rumo ao rio Tibagi, descendo as escarpas dos vales dos pequenos afluentes que correm em sua direção. Seguimos margeando ribanceiras por mais 15 kms, até chegarmos na fazenda “Princesinha do Tibagi”, às 11h da noite. 130 kms de viagem no total.
Fomos recebidos pelo capataz da fazenda. Ele nos entregou a “sede” e foi para sua casa. A “sede” era um rancho, bem simples, com lugares para pendurar redes, um sofá, uma TV que não sintonizava nenhum canal, material para lida com gado espalhado pelos cantos, selas, arreios, etc. Um só ambiente comportava a sala e a cozinha. Havia um banheiro e dois quartos. Na frente da casa uma varanda e nas proximidades, algumas construções de trabalho, um terreiro, uma pequena lagoa e um pomar.
Nossa primeira providência foi fazer o jantar. Jaime foi pro fogão e preparou uma fritada de salsichão de frango com cebolas, para comermos com pão. Uma iguaria saborosa para saciar nossa fome. Conversa vai, conversa vem, passava de 1h da madrugada quando resolvemos dormir. Jaime se arrumou num dos quartos, Fábio colocou um colchão na sala e eu fui pro sofá.
São Jerônimo da Serra, 21 de abril de 1999
Às 7h da manhã já estávamos em pé. Café preto e pão dormido foram nosso desjejum.
Só com a luz do dia conseguimos ver onde estávamos. Um morro na frente da casa e outro atrás. Era quase um buraco. Na frente, uma pequena represa.
O capataz apareceu montado em um cavalo, rebocando mais dois, conforme Jaime tinha pedido na noite anterior. Montava em pêlo. Parou no terreiro e começou a selar os animais.
Baio e Juanito eram os nomes de dois deles. Jaime iria nos levar para conhecer uma cachoeira. Às 9h montamos nos cavalos e começamos nossa trilha. Seguimos pelos carreadores do sítio. O Salto do Tamanduá praticamente não é visitado pelos moradores da região. Eles acham que a cachoeira é mal-assombrada. Nós entramos na trilha sem medo de fantasmas e cada vez com mais vontade de chegar até a cachoeira.
O cavalo que eu peguei, o Baio, era muito lento e preguiçoso. A todo momento tentava voltar pro sítio. Num certo ponto, parou e não queria seguir de jeito nenhum. Ficava olhando pro chão e batendo os cascos. Jaime achou que ele estava vendo um cobra, mas não havia nada. Ele encasquetou com algumas pedras no chão. De acordo com outro empregado da fazenda a cachoeira ficava a cerca de 3 horas a cavalo. No caminho passamos por trilhas no meio da mata, descemos ladeiras, atravessamos rios e morros, andamos no meio de pastos, cruzamos boiadas, tudo isso a cavalo. A cada obstáculo superado a cachoeira parecia maior e mais bela.
Cavalgando chegamos a cerca de 500 metros da cachoeira. Amarramos os cavalos e descemos até o rio Tamanduá, que alguns quilômetros à frente desagua no Tibagi.
Subimos o riacho escalando as rochas no seu leito e, enfim, depois de uma curva, lá estava ele: o imponente “Salto do Tamanduá”.
É uma paisagem ímpar. Todo aquele cansaço valeu a pena. A cachoeira tem de 60 a 70 metros de queda livre e forma um poço na sua base.
Depois de alguns minutos de contemplação e descanso pegamos o caminho de volta. Nós, cidadãos urbanos que raramente tem contato com um cavalo, ficamos impressionados (e apaixonados) pelos equinos. Principalmente depois de conhecer a inteligência destes animais. Muitas vezes o cavalo obedecia a nossos comandos verbais, sem necessidade de “cutucá-lo” ou usar o freio. Na volta, um dos cavalos insistia em seguir um caminho, mas o Jaime, nosso guia, disse que era pra outro lado. Acabamos nos perdendo e tivemos que voltar, concluindo que o nosso amigo animal estava com a razão.
Chegamos de volta à sede da fazenda às 14h30. Preparamos um churrasco para o almoço e por volta das 17h pegamos a estrada para voltar pra casa. Ainda de dia, no caminho pudemos observar enormes cachoeiras ao longe.
Essa região de São Jerônimo da Serra é linda.
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