Percurso Sertanópolis – Jataizinho – Ibiporã – 13/02/1997

Sertanópolis, 13 de fevereiro de 1997.

https://www.wikiloc.com/mountain-biking-trails/sertanopolis-jataizinho-ibipora-65016881

A ideia era ir até Jataizinho, a mais antiga cidade da região.

Jataizinho, criada no século XIX, nasceu como freguesia de Jatahy, em 1872. Foi a sede da Colônia Militar de Jatahy. Teve grande importância no cenário do Norte Pioneiro nos séculos XIX e XX, sendo um polo regional e servindo de referência para as demais cidades que estavam por surgir. Na primeira metade do século XVII, Jataizinho era pertencente à Espanha e se estabeleceu enquanto Redução Jesuítica de São José, às margens do rio Tibagi. Devido à ação dos Bandeirantes, que objetivavam a busca de ouro, pedras preciosas e índios e promoveram a expansão de território, o local tornou-se um pequeno porto comercial ligado à exploração de diamantes.

No século XIX, em virtude de conflitos fronteiriços com países vizinhos, interesses imperialistas da Inglaterra e novamente a política de povoamento, D. Pedro II, em 1851, estabelece a criação da Colônia Militar de Jataí. Joaquim Francisco Lopes foi o encarregado do Barão de Antonina para sua construção e vias de acesso. A Colônia Militar teve extrema importância estratégica na vitória dos países aliados contra o Paraguai.

Devido ao grande número de nativos na região, Frei Timóteo de Castelnuovo é encarregado da construção do Aldeamento São Pedro de Alcântara, que é inaugurado em 1855. Em poucos anos passa a ser considerado o mais importante aldeamento da Província do Paraná e, em 1865, torna-se sede da Vice-Prefeitura do Sul Brasileiro, ficando sob a jurisdição de Frei Timóteo de Castelnuovo os aldeamentos catequéticos de todo o Paraná e São Paulo.

Com o término da guerra a Colônia Militar deixou de ter importância e, com o fim do regime monárquico, os aldeamentos foram abandonados à própria sorte. Frei Timóteo falece em 1895 e a localidade regride populacional e comercialmente.

A partir de 1920 a vila volta a ganhar impulso com a vinda de novas famílias do novo empreendimento de colonização do Governo Republicano, aliado ao capital internacional das companhias colonizadoras.

Jataí significa “árvore de fruto duro”, que é o Jatobá (ou Jataí). Inicialmente denominada Jatahy, teve extrema importância para a efetiva colonização do Norte do Paraná e tornou-se o portal de entrada de muitas famílias que vinham de várias regiões do Brasil e do exterior em busca do próprio pedaço de chão para plantar as sementes de um futuro melhor. Os imigrantes vinham atraídos pelas propagandas da alta qualidade das terras, que eram vendidas a longo prazo e preços baixos.

Jatahy possuía uma enorme extensão territorial e de seu território foram desmembrados vários municípios: Londrina, Rolândia, Arapongas, Mandaguari, Maringá, Ibiporã, Assai, Cornélio Procópio, Uraí, Sertanópolis, Jaguapitã e Rancho Alegre. 

A travessia sobre o Rio Tibagi, em direção ao “Norte Novo” tinha que ser feita através da balsa ou de canoas, pois não havia ponte ferroviária nem rodoviária. A ferrovia chegou em Jatahy  somente no ano de 1932. A ponte ferroviária sobre o rio Tibagi foi inaugurada em 1935 e transpôs a barreira entre o passado e o presente, viabilizando o extraordinário progresso de toda a região.

A construção dos prósperos municípios do “Norte do Paraná” nas décadas de 40 e 50 foi feita com a argila e areia extraídas de Jataí, que chegou a ser considerada a “Capital Nacional das Cerâmicas”, exportando manilhas, telhas e tijolos para todo o Brasil.

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Edenilson e eu saímos de Sertanópolis bem cedo, pedalando pela PR-090 no sentido de Ibiporã, até chegarmos à “Venda do Piotto”, uma construção abandonada às margens da rodovia, que um dia foi um movimentado comércio. Foi ali que saímos do asfalto, entrando na estrada de terra que vai em direção ao Rio Tibagi.

Minha bike, que no asfalto estava fazendo um barulho chato, só melhorou quando entrou na terra. Acho que era falta de terra na corrente o motivo do barulho.

Não conhecíamos o caminho com precisão, mas não havia muito como errar. Chegando ao Rio Tibagi bastava margeá-lo no sentido da cabeceira que chegaríamos a Jataizinho. Com esse objetivo em mente, fomos descendo rumo ao rio.

Logo depois de entrar na terra, deveríamos ter pego estrada à direita, mas fomos em frente.

Logo chegamos ao Tibagi. Mas a estratégia de ir margeando o rio não deu muito certo. Afluentes de pequeno porte nos impediram de continuar facilmente. Paramos em alguns sítios para pedir informação sobre o caminho. Tivemos que subir novamente, alguns quilômetros. 

Com a rota corrigida, outro percalço: o pneu dianteiro de minha bicicleta, que fora consertado antes do início da viagem, furou novamente. Paramos num sítio cheio de jaqueiras para emprestar uma bomba e encher o pneu. Eram tantas jaqueiras, em plena produção, que o cheiro podia ser sentido de longe. O pneu não segurou o ar.

Depois de empurrar a bicicleta por cerca de dois quilômetros minha paciência esgotou-se e passei a pedalar mesmo com o pneu furado. Foram cerca de quinze quilômetros com o pneu furado até chegar a Jataizinho.

Quando chegamos a uma estrada mais larga, recém patrolada, aparentemente a estrada que deveríamos ter pego quando saímos do asfalto, Edenilson escorregou no barro e caiu. 

Mais à frente, encontramos um bar típico bar de beira de estrada, empoeirado, com pintura de propaganda política, que vende pinga, cerveja, alguns tira-gostos e mantimentos essenciais. Paramos para lanchar.

Chegamos novamente ao Rio Tibagi. Foi possível observar os estragos que a enchente de janeiro havia provocado: árvores caídas, galhadas por toda parte, muito barro na estrada e marcas da água em pontos altos de árvores, postes e colunas (das pontes), evidenciando a dimensão da enchente. Outro fato que nos chamou a atenção foi a grande quantidade de cristais de quartzo espalhados pela margem do rio.

Rio Tibagi com a ponte ao fundo

Cruzamos o rio pela ponte e entramos em Jataizinho. Apesar de ser a cidade mais antiga da região, ela pouco desenvolveu-se, mesmo tendo a ferrovia passando por ela e uma rodovia que liga Londrina e Maringá a Curitiba e outras cidades, além de Ourinhos/SP.

Nossa primeira parada foi num borracheiro. Como era de se esperar, a câmara de ar estava toda rasgada. Atravessei a pista e fui a uma loja que vendia câmaras. Remontamos o pneu e fomos dar umas voltas pela cidade.

Edenilson e Evandro no centro de Jataizinho

Depois de um lanche num bar da cidade, voltamos ao pedal. Pegamos o asfalto e cruzamos a ponte novamente, rumo a Ibiporã. Quase entrando na cidade, uma grata surpresa nos aguardava. Uma placa nos chamou a atenção: Horto Florestal. Entramos. Lugar muito agradável, com uma reserva de mata nativa de 74 hectares, com trilhas, mina d’água e um grande viveiro de mudas de árvores nativas da região. Logo na entrada já nos disseram que não poderíamos entrar com as bikes. Deixamos elas na portaria, onde o vigilante ficou tomando conta. Percorremos a trilha, de cerca de quatro quilômetros, que desce até uma mina d’água na parte mais baixa da reserva. Depois visitamos uma pequena casa onde haviam cartazes e fotos de parques paranaenses, e também de animais.

Agora só nos restava voltar para casa. Entramos em Ibiporã e cruzamos a cidade até pegar a rua que nos levou à PR-090. De cara enfrentamos a pior subida do caminho: o vale do Ribeirão Jacutinga. Depois, o caminho é mais tranquilo até Sertanópolis, sem tantos altos e baixos. Passamos pelo destacado arvoredo do Sabãozinho, que no passado, quando não tinha asfalto, era o terror dos motoristas pois a estrada era muito lisa. Depois, cruzamos o distrito da Taquara do Reino, os rios Couro-do-Boi e Cágados. Finalmente, no limite urbano de Sertanópolis, cruzamos o Ribeirão Taboca e entramos na cidade.

Foi um longo dia de pedal. Chegamos em Sertanópolis por volta das 17 horas, com 70 quilômetros rodados.

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