Botucatu, 16 de janeiro de 2005
A proposta do Ricardo para o final de semana foi conhecer uma cachoeira. Já estava na hora. Fazia 6 meses que morava em Botucatu e ainda não tinha conhecido nenhuma. Um arco-íris quando acordei prenunciava um belo dia de pedal, mas com chuva e sol, é claro.
Fui pedalando até a linda Catedral de Botucatu, nosso ponto de encontro. Ricardo Pires, Daniel Pimenta, Houtan e eu topamos a aventura. Saímos da Catedral rumo à parte alta da cidade, o Bairro Alto.
Fomos em direção à estrada da Indiana, que desce a Cuesta rumo à usina. Um garoa fina nos acompanhava. Logo no início, belas paisagens da Cuesta, como o Morro do Peru, ao longe, e, no horizonte, o rio Tietê.
Mais à frente passamos pela “Rampa Indiana”, famosa entre os praticantes de vôo livre. Depois, alguns trechos de mata fechada, até chegarmos aos trilhos da estrada de ferro.
O Daniel foi nosso guia a partir daí. Primeiro fomos até uma ponte sobre um riacho. A ponte alta, em arcos, é bonita e antiga. Ajuda o trem a superar o vale pedregoso e profundo do riacho.
Enquanto observávamos a paisagem o trem deu sinal de vida. Uma buzina forte nos alertou sobre o perigo. Saímos correndo da ponte, levando as bikes que estavam estacionadas nos trilhos, e ficamos vendo o trem passar, puxando tanques de combustível.
De cima da ponte também podíamos ver, cerca de dois quilômetros rio abaixo, a usina que dá nome a esta região. A Usina Indiana é uma antiga usina de açúcar e aguardente, localizada aos pés da Cuesta. Desativada e em processo de degradação, os proprietários tentam manter o local, mas aparentemente não há apoio do poder público para manter este pedaço vivo da história da cidade.
Do outro lado da ponte, víamos o riacho sair de dentro da mata.
Carregando as bikes, descemos o barranco. Caminhamos rio acima pelas margens enquanto não havia mata, depois, com água fria na altura das canelas, caminhamos por dentro do leito.
Cerca de quinze minutos de caminhada e chegamos à Cachoeira da Indiana. É uma cachoeira com cerca de dez metros de altura. Ela é formada por duas quedas que, por uma grande coincidência da natureza, são de dois riachos que se juntam exatamente na cachoeira: o Roseira e o Aracatu.
Um pouco abaixo um pequeno poço para quem quer nadar. Entramos na cachoeira. A água estava congelando. Água de riacho é sempre fria na serra. Ficamos alí cerca de 30 minutos.
Agora era hora de voltar. A garoa finalmente parou. O caminho de volta foi por outra estrada. Cruzamos a estrada de ferro e fomos no sentido da usina. Atravessamos o rio duas vezes, pelo leito pedregoso, pedalando dentro do riacho. Seguimos paralelamente aos morros, por uma estradinha arenosa. Desta estradinha tivemos uma visão inusitada no estado de São Paulo: um rebanho de búfalos criado aos pés da Cuesta.
Mais alguns quilômetros e chegamos na estrada da Bocaina, caminho para subir a serra. Alí havia ruínas de uma capela. Da estrada só víamos a torre.
Pegamos a esquerda e cruzamos o ribeirão Bocaina. Agora era serra acima. Fui subindo e deixei a galera pra trás. Passei pelo Morro do Peru, local lendário na cidade, e parei para esperá-los numa das curvas da estrada, onde há um mirante. Bela vista da região conhecida como Bocaina (“Caminho para o Alto” em tupi-guarani), do Morro do Peru, da linha férrea e lá no horizonte o rio Tietê.
Depois de alguns minutos os amigos chegaram, descansaram um pouco, curtiram a vista e voltamos pra estrada. Mais subida até chegar na cidade e de lá tomar o rumo de casa.
Foi um belo passeio pela Cuesta. A cada dia de pedal gosto mais desta cidade misteriosa, histórica e lendária.