Buritis – MG, 16 de fevereiro de 2015
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Choveu muito durante a noite. Tive que sair correndo do quarto para retirar as bikes da chuva. Pensei que nosso pedal iria azedar, mas que nada. O dia amanheceu brilhante e fresco. Tomamos o café da manhã e partimos para um giro pelas redondezas da Fazenda Gado Bravo, da família de meu amigo Gilson Magalhães. Quem encarou o desafio foram Eldenice, Gilson, Alessandro e eu.

Evandro, Alessandro, Eldenice e Gilson.
Saímos da fazenda às 8h15. A região possui muito cerrado preservado, assim, pedalar pelas estradas é sempre agradável. Depois de cruzar o Córrego Formosa, passamos pela Vila Cordeiro.
Com 19 km chegamos na Vila Palmeira, onde fica a escola de Mariana, sobrinha de Gilson. Gilson aproveitou para espantar o calor tomando uma Coca-Cola.
Nosso caminho era pelas baixadas, mas seguíamos escoltados pelas serras Formosa, das Palmeiras e Lourenço Castanho.
Próximo a um dos riachos do caminho, uma curiosa formação nos chamou a atenção. A chuva erodiu o terreno e criou formas inusitadas no solo arenoso.
À medida que nos aproximávamos do Rio Urucuia, a Serra do Bonito, à nossa frente, se apresentava cada vez maior. Meu pensamento girava em torno da possibilidade de ter que a escalar.
Chegamos ao Urucuia nas proximidades da Serra do Bonito, onde ele deixa de ser goiano e passa a ser mineiro. O Rio Urucuia é um dos principais afluentes da margem esquerda do Rio São Francisco. Ele nasce nos chapadões de Goiás, próximo à divisa com Minas Gerais. Seu nome significa “rio vermelho”.
A estrada que seguíamos passou bem próxima ao rio. Fizemos uma parada ali, com 33 km, para tomar banho no Urucuia. Nesse ponto, o leito é rochoso. Alguns metros abaixo, um grupo de pescadores esticava uma rede.
Seguimos acompanhando o rio. As margens do Urucuia tem uma bela mata ciliar. Subimos a borda do vale, distanciando um pouco do leito. Na primeira descida, soltei o freio. Confiei demais em minha habilidade em um terreno desconhecido. Ao tentar saltar uma poça d’água, perdi o controle da bicicleta. Ela foi em direção à cerca. Poderia ter sido um grave acidente, mas um mourão da cerca salvou-me. Consegui me segurar e evitei o choque direto com o arame farpado. Foi um grande susto. Quando os colegas chegaram eu ainda me recuperava do susto e da dor no pulso que passei a sentir depois do choque.
Nos afastamos da margem do Urucuia e entramos na Fazenda Cachoeira. Os ventos por ali foram intensos nos últimos dias. Árvores caídas davam mostras da força da natureza. Na beira da estrada da fazenda encontramos pés de araticum carregados. Pena esta fruta ter de estar muito madura para poder ser apreciada. Ela é uma delícia. Aproveitamos a passagem pela sede para nos reabastecer de água.
O vale do Urucuia separa as irmãs Serra do Bonito e Serra Lourenço Castanho. Por este vão entre-serras, seguimos. Agora, a serra que crescia à nossa frente teria que ser enfrentada. A cumeeira da Lourenço Castanho é a divisa de Goiás e Minas Gerais.
Mas antes de subir a serra, tínhamos que descansar um pouco. Sob a ponte do Ribeirão das Tabocas, fizemos nosso lanche e tomamos um refrescante banho de rio.
Voltando ao pedal, acabou a moleza. Tudo de fácil e agradável que vivemos até ali foi de uma só vez retirado. Em 3,65 km, escalamos 300 m, um inclinação média de 17%. Eu e Alessandro subimos juntos. Não parei nem pra tirar foto, mesmo morrendo de vontade. O coração na boca, batendo forte; as pernas bambas de tanto fazer força. No horizonte, as belas paisagens do vale do Urucuia.
Alessandro e eu zeramos a subida. Paramos no final, sob a escassa sombra de algumas árvores do cerrado. Ficamos apreciando a paisagem e esperando Gilson e Deny. Ao nosso lado, várias garrafas de pinga. Pelo jeito, o local é usado para macumba.
A parte final da subida tinha um tobogã interessante. Fiquei no alto, esperando os amigos chegarem para fotografar, o que me levou a quase presenciar um acidente de Gilson. Quase, pois não houve. Ele conseguiu controlar a bike cuja roda dianteira entrou num ciclo de vibração estranho.
Deny e Gilson levaram quarenta minutos para chegar onde nós os esperávamos. A subida da serra fritou o Gilson.
Nosso caminho seguiu por uma estrada que não respeita a fronteira dos estados. Hora estávamos em Minas, hora em Goiás. Gilson delirava. Ele dizia ver os galpões de uma fábrica “logo ali”, mas ainda estava bem longe, já que a tal fábrica ficava na rodovia. À nossa esquerda, lindos buritizais decoravam a paisagem.
Quando na estrada apareceram bancos de areia, Alessandro e eu paramos para esperar o casal. A estrada, cheia de areia, foi a gota d’água para Gilson. Ele conseguiu uma carona e deixou Deny conosco. Faltavam cerca de dez quilômetros para o asfalto. Neste trecho, Deny furou o pneu. Ajudamo-la a consertar o pneu e seguimos.
Chegando no asfalto da BR-479, surpresa. Gilson nos esperava sob a sombra de uma árvore. Eu pensei que só o veria na fazenda, mas que nada, arrumou-se e seguiu conosco. Esse é guerreiro!
Nossa água estava no fim. Por isso, fizemos uma parada na Indústria de Sementes Serra Bonita, os tais galpões que Gilson vira em delírio.
Faltava pouco. Alessandro e eu seguimos na frente, um no vácuo do outro. Rapidamente chegamos na estrada da fazenda. A fome nos apressou e resolvemos seguir. Descemos a linda Serra dos Papagaios e continuamos pelo meio do cerrado até a Fazenda Gado Bravo. Gilson e Eldenice chegaram logo depois de nós. Pegaram um atalho e economizaram alguns quilômetros.
Nosso pedal terminou às 17h. Quase brigamos pela comida que nos reservaram. Foram 112 km de trilha. De noite, rolou um ótimo churrasco e a conversa foi até tarde. Como sempre, as aventuras no Vão do Gado Bravo são fantásticas e inesperadas.
Que saudade me deu! Foi nesse dia que Alessandro negao deu a louca de fome..kkkk…tive que dar suplemwnto pra ele lembra? Passei recentemente com Rodolfo em alguns desses trechos inclusive naquela serra atolada de poeira. Muito dura!
Sempre excelentes pedais com você.
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