Formosa, 27 de novembro de 2016
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Confraternização do Pedal Tio Kin em Formosa. Eu não poderia ficar de fora. Lá fui eu pra Goiás. Acordei de madrugada e peguei a estrada debaixo de chuva. O ponto de encontro foi no distrito de Bezerra. Lá estavam o Tio Kin e a família e os ciclistas de Formosa. Por volta das 7h15 partimos em comboio para uma chácara a seis quilômetros do Bezerra, às margens da GO-468.
O café estava servido e, como sempre, muito bem servido. Pão de queijo, bolo, ovos mexidos, café e suco. Comemos e nos preparamos para a partida.
Foi aí que soube que haveria dois trajetos. Quem quisesse poderia fazer a trilha longa, passando pela cachoeira do Pasmado, de 70 km. Quem não estivesse preparado para tanto poderia fazer uma trilha mais curta, indo até a Serra do Bonito e voltando, num trajeto de 35 km.
Tio Kin fez a preleção. Rezamos e partimos às 8h30. Saí com o pelotão da trilha longa: Eldenice, Rodolfo, Manoel e eu. Eldenice foi nossa guia.
Saímos da chácara pela GO-468 e logo entramos na estrada que segue para o Bonito. A estrada estava com muitas poças d’água e trechos de lama. O caminho é praticamente só descida até a comunidade do Bonito (onde o feio não tem vez). O ponto mais baixo é o rio Bonito, que dá nome ao local. Logo depois fica a comunidade, onde fizemos uma parada rápida para descansar. Paramos na capelinha azul da comunidade. Fomos constantemente observados por papagaios que pousaram na árvore ao lado da capela.
Então começamos o maior desafio do dia: subir a Serra do Bonito. Subida dura. Do rio até o alto da serra são cinco quilômetros de estrada. Não sei ao certo quem recebeu a denominação “Bonito” primeiro, se a serra ou rio, mas, nesse dia, o rio, com as águas turvas devido à chuva, não fazia jus ao nome. Já a serra, merecia. Com suas escarpas cobertas de mata, a Serra do Bonito é a divisa natural de Minas Gerais e Goiás. Subimos pela estrada que corta a mata e segue os contornos da serra.
Paramos no alto para reagrupar. Saímos de Goiás, município de Formosa, e adentramos em Minas Gerais, município de Buritis. Nada de mata lá em cima. Virou tudo lavoura e há também uma pista de pouso para aviões. Enquanto descansávamos chegou Evailton, de carro. Veio fazer apoio ao grupo da trilha curta.
Seguimos pelo alto da serra por dois quilômetros e começamos a descer do outro lado. Com o barro espalhado pela relação, minha bike acabou desregulando as marchas. O cabo do câmbio dianteiro escorregou e fiquei sem conseguir usar a coroa menor. Na primeira parada eu consegui ajustar. Ficou melhor, mas precário.
A descida da serra nos revelou belas paisagens. Chegamos na região conhecida por Pasmado. Região belíssima, isolada pelas serras do Bonito a oeste, da Campanha a sudeste, do Pasmado a nordeste e do Mamoeiro a norte. A estrada estava precária. Valas e pedras exigiram habilidade. Rodolfo pegou uma vala e quase foi pro chão.
Chegamos no rio Pasmado, perto de suas nascentes. As chuvas levaram a ponte que seria nosso caminho. Entramos numa trilha à direita, pelo cerrado, que foi acompanhando o rio até chegar num local de travessia. Um lajeado de rocha plano forma uma pequena cachoeira, de cerca de 1,5 m. Na parte exposta da laje, um detalhe passa despercebido para a maioria: o local é uma oficina lítica, local usado pelos povos pré-históricos para manipulação de pedras e confecção de ferramentas. As depressões côncavas no lajeado são a assinatura mais comum das oficinas. Os povos pré-históricos esfregavam pedras no lajeado, junto com água e areia, desgastando-as até dar-lhes o formato desejado. É este processo que gera a depressão côncava na laje.
Atravessamos pelo lajeado e pulamos a porteira do outro lado do rio. Seguimos por uma trilha na margem esquerda. Uma ladeira íngreme de pedras soltas nos levou até a bela Cachoeira do Pasmado.
É uma cachoeira de nove metros de altura. Aos dois metros há um degrau de 1,5 m de largura. O rio estava barrento e com bom volume devido às chuvas. Entramos no poço na e nadamos até a queda, subimos no degrau e tomamos um ótimo banho de cachoeira nas águas do Pasmado.
Depois da diversão, lanchamos. Ainda estávamos com apenas 25 km de trilha. Escalamos a margem do rio e voltamos pro pedal. Não atravessamos novamente o Pasmado. Seguimos por trilhas na mata ciliar até chegar numa fazenda. Fomos recepcionados por vários cães. Felizmente, o dono tinha sido avisado que passaríamos por ali e logo chamou os cachorros que voltaram pra casa. Aproveitamos pra pegar água.
Saímos da fazenda subindo pelo meio de um cerrado degradado, usado como pastagem. Quase não conseguimos pedalar até chegar no alto da chapada. Aí sim, conseguimos pedalar. Entramos numa estrada que seguiu rumo ao córrego Palmeiras. Ladeamos um eucaliptal e depois descemos até cruzar o córrego a vau, pelo lajeado.
Fizemos outra parada na fazenda logo depois do rio. Um pé de manga carregado supriu nossa necessidade de carboidratos.
O próximo desafio foi subir a Serra do Mamoeiro. Subimos e pegamos a estrada na chapada. A Serra do Bonito foi ficando cada vez mais próxima, até vermos a estrada de terra vermelha subindo a serra. Subida forte. Na metade, uma caminhonete quebrada recebia reparos.
Lá no alto começou a correria pela chapada plana do alto da Serra do Bonito, e também o enche-murcha do pneu traseiro do Manoel. A bike dele estava com pneus sem câmara e o furo não queria vedar.
No meio da serra encontramos um pé de manga. Mais uma paradinha para energizar. Assim, chegamos rápido na estrada que desce a serra, a mesma estrada que subimos. Cruzamos a divisa e voltamos pra Goiás.
Descer foi bem mais fácil. Na parte de baixo, Léo e Adãozinho nos esperavam. Estavam nos procurando pois demoramos muito. Trilha boa é assim! Sem pressa. Paramos novamente na comunidade do Bonito. Manoel resolveu, finalmente, colocar uma câmara de ar no pneu, mas, quando foi encher, a câmara também estava furada.
Eldenice, muito cansada, resolveu embarcar no carro com seu irmão Léo. Manoel topou continuar com a bike dela.
Aí começou a correria. Rodolfo e eu aceleramos pelos quinze quilômetros que nos separava do almoço. Foi sofrido. Não há muita inclinação, mas a subida constante vai minando as forças. A cada curva surgia mais um pedaço de estrada. Sempre pensava que era a última, mas ela demorou para chegar. Finalmente chegamos no asfalto e logo depois na chácara.
Nosso pedal rendeu. Foram 67 km com 1036 m de subida.
O pessoal na chácara já tinha até comido a sobremesa. Só estavam nos esperando para o momento mais aguardado do dia: o sorteio de uma bicicleta Pinarello antiga, com relação fixa.
Eldenice, Rodolfo e eu brigamos pelos últimos pedaços de carne que sobraram na panela. Sorte nossa ter sobrado bastante pequi.
Depois do nosso almoço fez-se o sorteio. Guió, irmã de Kinzinho, previu: “Quem vai ganhar é o Nunes, pois o rio sempre corre para o mar.” Nunes é dono da maior loja de bikes de Formosa. Na hora do sorteio, adivinhe quem ganhou: Nunes. Para nossa sorte, ele prometeu que, caso ganhasse, abriria mão do prêmio para que o sorteio fosse refeito. Mais uma vez a sorte foi pro lado dele. O novo sortudo havia combinado com Nunes que, caso ganhasse, lhe venderia a bike por vinte parcelas de R$49. Negócio feito!
Acabado o sorteio, acabou a festa também. Fui tomar banho e quando voltei quase todos já haviam partido. Uma pena. Nem pude conversar direito com meus amigos. Peguei a estrada e voltei pra Brasília.
Boa festa e boa trilha. Mais uma maravilha de Formosa incluída no currículo.
Viajei em memória, parte desse trajeto, quando tive a honra de conhecer essa linda cachoeira, local conhecido como recanto das cachoeiras
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