Brasília, 4 de dezembro de 2016
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Não planejava fazer mais uma trilha em 2016, mas diante do convite do meu velho amigo Dourado, para uma trilha partindo do seu rancho, não pude negar.
A contragosto, minha estimada esposa, levou-me até o ponto de partida. Às 6h30 da manhã, ela deixou-me no posto da Polícia Rodoviária Federal, na BR-060, na entrada de Samambaia. Esperamos alguns minutos até chegarem todos os ciclistas convidados e partimos.
Saímos pela BR-060, sentido Goiânia. No caminho, paramos numa lanchonete à beira da estrada para o café da manhã. Com as barrigas cheias, continuamos a viagem até o rancho, às margens do rio Corumbá.
Finalmente pude conhecer o famoso Rancho Dourado e suas suntuosas instalações. As fotos impressionam.
Depois de alguns minutos de preparação, deixamos as suntuosas instalações do Rancho e a trilha começou. O pelotão foi formado por: Dourado, Rogéria Barcelos, Wilson, Elza Sueli, Tércio, Maurício Oliveira, João Leite, Emerson Bandeira, Wellington Bitencourt, Arquimedes, Paulo Capitão e eu.
Saímos do Rancho pela fazenda vizinha, criadora de búfalos. Nela, encontramos raros búfalos albinos. Eles se destacavam no meio do rebanho. Algumas búfalas prenhas, no meio da estrada, nos estranharam, encararam com cara de mau, mas nos deixaram passar.
Belas paisagens do rio Corumbá apareceram no fundo do vale quando a vista se abriu.
Seguimos por estradas que acompanham o Corumbá, passando por belíssimas matas nativas frondosas e verdinhas, regadas que foram pelas chuvas de verão.
Apareceram algumas porteiras em nosso caminho, todas fechadas. Pulamos todas, sempre guiados pelo engenheiro de plantão, Arquimedes, que nos indicava o local ideal para não comprometer a estrutura da porteira. Na última delas, notamos uma estranha disparidade entre os selins de Dourado e Arquimedes: o do Dourado, ereto, o de Arquimedes, deprimido.
Saindo do Corumbá, escalamos a Serra da Barriguda e descemos do outro lado, passando pelo ribeirão das Galinhas, o mesmo que nasce bem próximo a Olhos D’água, nosso principal destino do dia. Depois do Galinhas, foi praticamente só subida até Alexânia.
Quando as bikes apontaram para os lados de Alexânia, vimos nuvens negras sobre a cidade. Ouvíamos os trovões ecoando pelo vale. Arquimedes ficou preocupado. Ele enfrentou uma situação difícil pedalando num temporal e ficou traumatizado.
Seguimos rumo à inevitável tempestade. Em certo ponto, resolvi acelerar para tentar chegar em Alexânia antes da chuva mas não adiantou. Vento e chuva, fina e gelada, me pegaram no caminho. No alto, encontrei a turma da dianteira parada no primeiro bar da cidade. Ficamos esperando a cozinha chegar.
Quando Dourado chegou, pedalamos até o “Nosso Bar do Lázaro”, que apesar da contradição, tem o melhor bolinho de carne da cidade. Ali a turma fez um lanche e curtirmos um show de música sertaneja ao vivo. Quando já nos preparávamos para sair, chegou Arquimedes. Ele conseguiu carona numa caminhonete e finalmente juntou-se a nós.
Partimos para Olhos D’água. Atravessamos a BR, cruzamos a parte norte da cidade e pegamos a GO-139. A rodovia asfaltada tem inclinação positiva pequena e constante.
Foram dez quilômetros fazendo força até chegar ao trevo. Dali até Olhos D’água foi praticamente só descida. Do alto da estrada avistamos a cidadezinha, com sua igreja se destacando em meio às casas, junto ao ribeirão das Galinhas.
Olhos D’água estava cheia de gente. Ocorria a 87ª Feira do Troca, evento que acontece apenas duas vezes por ano desde 1974. Oito mil turistas invadem a cidade nos dias de feira, o que é muito para uma população de mil habitantes. A Feira foi criada por hippies candangos que invadiram a cidade nos anos 70. O povoado nasceu em 1939, quando uma capela começou a ser construída junto a um olho d’água onde boiadeiros levavam gado para beber.
A Olhos D’água de hoje é uma vila que atrai pela simplicidade, pela beleza singela da arquitetura colonial, pelo sossego do interior.
Nossa van estava por lá. Paulo, o motorista, veio conhecer a feira.
A Feira do Troca cerca a igreja, ocupando todo o entorno gramado. Os vendedores montam barracas ou espalham seus produtos pelo chão. As trocas são livres. Tem de tudo: roupas, alimentos, animais, artesanato, utensílios, ferramentas, móveis, plantas. Se não rolar uma troca, pode-se comprar os produtos.
Há um palco onde acontecem shows de música, mágica e outras apresentações, tudo muito simples.
Nós percorremos toda a feira. Visitamos a loja de artesanato de Fatinha Bastos, a Maga das Palhas, que produz obras usando palha de milho e outros produtos naturais. A arte sacra se destaca, mas também há bailarinas, bonecos, flores.
Ao lado da loja fica o bar-museu de D. Cecília e Seu Antônio. Nos tempos em que a informação era algo raro, os jornais trazidos de Goiânia eram expostos nas paredes do bar, onde a população vinha se inteirar das novidades. Neste vídeo, Dourado explica como isso funcionava:
Hoje, as paredes estão cobertas de cartazes. Um deles conta que a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas passa na rua em frente.
Saindo do bar encontramos uma Belina disponível para troca. Primeiro modelo, fabricada em 1974. Parecia bem conservada. Tentamos trocar um dos integrantes do grupo pelo veículo, mas o proprietário não topou.
Diante da frustração do negócio, fomos afogar nossa mágoa com comida. Comi uma galinhada com pequi e de sobremesa um caprichado açaí. Até rimou!
Sentados sobre uma ótima sombra, com as bikes espalhadas pelo gramado, jogamos conversa fora até as 14h, quando partimos para o trecho final de nosso pedal.
Saímos de Olhos D’água por outra estrada, agora de chão. No horizonte, tempestade, negra, elétrica. Os raios riscavam o céu.
Arquimedes, tão rápido quanto os raios, abrigou-se dentro da van. Paulo assumiu a bike e Arquimedes, o volante.
O caminho de volta foi tão belo quanto a ida. Pegamos vários trechos de mata. Alcançamos a chuva depois de alguns quilômetros. Ela deixou o caminho ainda mais bonito. O horizonte ficou escondido atrás da cortina d’água.
As pontes da estrada eram surpresas perigosas. Com as laterais carcomidas, sem guardas, nos pregavam sustos com sua altura.
Chegamos na BR-060 às 15h. A rodovia estava toda molhada. Lá estávamos nós novamente escalando a Serra da Barriguda.
Pedalamos cinco quilômetros pelo asfalto, até chegar na estrada de terra que segue para o Rancho. Descemos até o córrego Barriguda e a partir dele enfrentamos a última subida do dia. Enormes poças d’água marcaram nossa passagem. Depois delas, foi só descer para o Rancho.
Resumo do pedal: 57 km com 874 m de subida.
Paulo, nosso motorista, não tardou a chegar com a bike do Arquimedes. Chegou na frente de alguns ciclistas, mesmo sem estar com sapatilha e sem saber trocar as marchas. Sinistro!
E com este maravilhoso pedal, encerro minhas pedalanças off-road deste ano. Valeu, turma. Até janeiro, se Deus quiser!