Brasília, 28 de julho de 2018
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Oportunidades de cicloviajar às vezes precisam de alinhamento astral. Foi isso que aconteceu dessa vez. Eu já vinha planejando algo grande para o final de semana. Minha esposa foi viajar com sua mãe, levando meu filho, deixando-me solitário em casa. Pretendia pedalar por trilhas longas próximas a Brasília mas, durante a semana, Leonardo Pires disse que sua esposa também viajaria. Envolvi o amigo Silvio Sá, que estava de férias, e inventamos novo roteiro. Em dois dias de pedal iríamos conhecer cinco cidades históricas do Planalto Central. Na quinta-feira, Leonardo acabou desistindo pois sua esposa acabou não viajando.
Assim, no sábado, às 6h da manhã, Silvio Sá e eu partimos para uma longa aventura por terras goianas. Silvio levou suas tralhas em uma mochila e num bagageiro de canote. Eu ajeitei tudo numa bolsa de guidão e numa mochila. Não valeria a pena levar alforje numa viagem de apenas dois dias. Sem muito espaço pra bagagem, eu teria que pedalar dois dias com a mesma roupa.

O sol começou a nos aquecer quando passávamos por Samambaia. Depois do entroncamento da BR-060 com a DF-180, pegamos o desvio pela estrada de chão que nos leva diretamente ao Setor Habitacional Água Quente, na DF-280, passando pelos acampamentos de sem-terras que há na área.
Com 35 km chegamos em Santo Antônio do Descoberto, a primeira cidade histórica da viagem.
Santo Antônio, hoje “do Descoberto”, já se chamou “dos Montes Claros”. A região montanhosa entre a Ponte Alta (Gama) e Santo Antônio era conhecida, nos tempos dos bandeirantes, como Montes Claros. Fundada por volta de 1722, no auge do ciclo do ouro do Brasil colônia, todo o entorno da cidade era uma imensa mina de ouro, chegando a ser a terceira mais importante do então julgado de Santa Luzia (atual Luziânia).
Não sobrou quase nada de suas construções históricas, apenas a igreja, que guarda história interessante. Nos tempos do garimpo, dois escravos garimpeiros encontraram imagem de Santo Antônio de Pádua junto a um pé de angico. A imagem foi levada para a igreja de Santa Luzia mas, milagrosamente, desaparecia da igreja e reaparecia no pé de angico onde fora encontrada. O fato repetiu-se várias vezes. Levada à igreja, sumia e reaparecia em Santo Antônio. O padre até chegou a guardar a imagem dentro de um cofre, mas foi inútil, ocorrendo o milagre da mesma forma. Em 1770 foi construída a igreja, para onde a imagem foi transferida definitivamente. Ao longo do tempo, a construção foi sendo reformada e perdeu suas características originais.
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Paramos numa padaria logo no começo da cidade. Lanchamos e depois atravessamos Santo Antônio de leste a oeste, seguindo a GO-225, até alcançar a estrada de chão que segue para o Rio Areias. O rio estava baixo, com águas verdes bem limpas. Atravessamos pela ponte do Bar do Vilmo. O subidão depois da ponte é cansativo. Duzentos metros de ascensão em seis quilômetros.

Quando chegamos no alto, descemos novamente para atravessar o Córrego do Valério. A estrada estava cheia de talco, com buracos e valas encobertos. Desci com cuidado.
Passado o córrego, novo desafio: 150 m de ascensão em 3,5 km. Descansamos no alto. Depois seguimos pela alameda de eucaliptos e cruzamos o chapadão. Do alto é possível ver grande buritizal no Córrego Muquém, coisa linda, mas que está com os dias contados. Além da represa que fizeram na parte mais baixa, todo o cerrado do entorno foi removido. Alguns braços do buritizal já estão secando.
Descemos a chapada, passando pelo Córrego Muquém e pelo Ribeirão Cachoeira, com seus desafiadores vales.

Assim chegamos à GO-139. Na rotatória, pegamos a rodovia GO-561, que levou-nos a Olhos d’Água, a segunda cidade histórica de nosso roteiro.
Santo Antônio dos Olhos d’Água não é tão antiga. Ela nasceu quando fazendeiros locais doaram terras para a construção de uma igreja. A primeira cruz foi erguida em 1940. A comunidade cresceu à medida que moradores da zona rural começaram a construir casas ao redor da igreja, tornando-se distrito de Corumbá de Goiás em 1954. Em 1960, com o anúncio da construção de Brasília, a cidade sofreu duro golpe. A sede do município foi transferida para a margem da BR-060 onde se formou Alexânia.

Agora, Olhos d’Água renasce com o turismo. Atrativos naturais são poucos, como o belo Rio do Ouro e algumas cachoeiras, mas o que realmente atrai na cidadezinha é o turismo cultural. Em volta da igreja há belas casas coloniais.

Duas vezes por ano, nos primeiros finais de semana de junho e dezembro, ocorre a Feira do Troca. Realizada desde 1974, na feira é possível trocar produtos de todo tipo, como roupas, calçados, discos de vinil, artesanato em geral, alimentos, livros. Mas se você não tiver nada para trocar, é possível comprar também.
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Era pouco mais de 11h da manhã quando chegamos a Olhos d’Água. Já havíamos pedalado mais de oitenta quilômetros. Decidimos almoçar por ali. Paramos no bom e barato Restaurante da Vilma. Comida caipira no fogão à lenha por apenas R$12 por pessoa.
Por volta das 12h, com o bucho cheio, fomos até a praça da igreja procurar cantinho para dormir. Nos acomodamos no coreto e tiramos boa soneca.
Às 13h saímos pelo oeste da cidade. O caminho ficou mais difícil pois entramos em estradas de fazenda. Geralmente, as estradas principais de uma região, de asfalto ou de terra, tem seu traçado sobre terrenos de fácil transposição para automóveis, terrenos planos ou de aclive suave. Terrenos de maior inclinação são evitados e as travessias de rios e riachos buscam as áreas onde os vales são mais facilmente superados. Já nas fazendas, o propósito das estradas é diferente. Ao contrário das estradas principais, em que o objetivo primário é ligar lugares rapidamente, as estradas de fazenda objetivam dar acesso a locais da propriedade, independentemente da dificuldade. Não há um projeto elaborado. Simplesmente abre-se a estrada e pronto. Foi por estradas assim que seguimos.

Passamos pelo Rio do Ouro, cuja saída foi longa subida de cinco quilômetros. Entramos por um carreador cercado. Dos dois lados, pastagens cheias de gado. Logo no início, um boi de porte médio estava confinado no carreador. Ao nos ver, saiu correndo à nossa frente. A estrada estava erodida e as laterais tinham barrancos altos, onde estavam as cercas. O boi inicialmente correu pelo meio da estrada, depois subiu pelo barranco e continuou. Depois de mais de um quilômetro correndo ele cansou-se, desceu para o meio da estrada, virou-se para nós e ficou bufando. Pressentindo o perigo, parei para ver o que ele faria. O animal ficou parado. Quando Silvio chegou, subimos o barranco tentando desviar do bicho. Ao passar exatamente ao seu lado, ele atacou. Primeiro veio para cima de mim, mas o barranco impediu que ele me atingisse, eu gritei com o boi que foi então pra cima do Silvio. O animal deu um pulo de lado na borda do barranco, escoiceou, mas também não conseguiu bater no Silvio. Depois do ataque de fúria, desceu correndo a estrada para voltar ao lugar de onde tinha vindo.
Nós subimos o mais rápido possível para sair do alcance do animal raivoso, até cruzar porteira no alto. Que susto!
Seguimos descendo e subindo morros até cruzar o Rio Congonhas. Na saída do vale do Congonhas eu parei para esperar Silvio que estava quase frito. O sobe e desce acabou com ele. Enquanto eu esperava, um homem de moto parou para conversar conosco. Ele perguntou de onde vínhamos, por onde passamos. Pelo que lhe contei, ele afirmou que passamos por dentro da Fazenda Santa Mônica. Inicialmente, não liguei os fatos. Conversa vai, conversa vem, ele citou que a tal fazenda era enorme, e foi aí que caiu a ficha. Havíamos passado pela Fazenda Santa Mônica, aquela, do senador Eunício de Oliveira. Mas como assim? A Santa Mônica que eu conheço fica perto do Bar do Botinha, a cerca de vinte quilômetros de onde estávamos.
Pois é, a Fazenda Santa Mônica, de propriedade de Eunício de Oliveira, senador pelo Estado do Ceará, quando adquirida, tinha três mil hectares. A propriedade foi sendo expandida, incorporando sítios e chácaras vizinhas, até alcançar hoje, mais de trinta mil hectares. Segundo nosso interlocutor, os vizinhos podiam pedir o valor que quisessem pelas terras vizinhas à fazenda. Os gerentes não discutiam o preço, apenas pagavam. Quem não queria vender era convencido de várias formas, como relatado no documentário “Passarim”, de Camila Freitas (https://vimeo.com/112022804). Segundo nosso interlocutor, a expansão só parou quando o nome de Eunício foi citado na Operação Lava-Jato, época em que já se aproximava do perímetro urbano de Abadiânia. Hoje, a fazenda ocupa terras de Alexânia, Corumbá de Goiás e Abadiânia.
Continuamos pela fazenda. Só queríamos passar. Na saída, ficou claro onde estávamos. As construções são padronizadas por toda a área, com cercas bem feitas, porteiras novas e casas pintadas de ocre e branco. Aproveitamos para pedir água em uma das casas. Silvio estava nas últimas. Sempre pedia para parar e descansar um pouco.
Ao sair da fazenda, o caminho ficou mais fácil. Aos 108 km passamos pelo Rio Corumbá e quatro quilômetros depois chegamos à BR-060. Pelo asfalto continuamos subindo até Abadiânia, passando pela frente do Restaurante Jerivá.
Foram 121 km de pedal com 2000 m de ascensão. Silvio confessou ter sido a trilha mais difícil da vida dele. Ual!
Depois de lanchar numa pamonharia, hospedamo-nos num hotel na beira da pista. Foi apenas R$40 para quartos individuais. Lugar bagunçado, barulhento. Pessoal maluco (literalmente) morando no hotel. O quarto até que estava limpo, mas não recomendo a ninguém.
Descansamos até anoitecer, quando saímos para jantar numa lanchonete no lado oposto da BR. Espetinhos e jantinha foi o cardápio.
Abadiânia, 29 de julho de 2018
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Às 4h da manhã, despertei e não consegui mais pregar os olhos. Fiquei mais uma hora e meia deitado mas, sem sono, levantei-me às 6h30 e preparei-me para a partida. Tive que usar a mesma roupa do dia anterior. O cheiro não estava bom. Viagem curta, sem espaço pra bagagem, é assim mesmo. Economia total de espaço.
A Abadiânia atual localiza-se às margens da BR-060. A sede do município mudou-se em 1960 com a criação da rodovia.
Desde 1976, um novo tipo de turista passou a visitar a cidade, movimento que aumentou sistematicamente nestes mais de quarenta anos. Atualmente, mais de cinco mil pessoas por semana visitam a Casa de Dom Inácio de Loyola. São pessoas de todo o mundo que vêm em busca de cura para males diversos. João Teixeira de Faria, o João de Deus, recebe entidades espirituais que fazem o atendimento dos pacientes. Este movimento mudou Abadiânia, que deixou sua vocação natural, agrícola e pecuarista, e transformou-se num dos mais importantes pólos turísticos de Goiás. Nas proximidades do templo ecumênico há vários hotéis e lojas, cujas fachadas têm textos em português, inglês e espanhol.
Às 7h bati na porta do quarto do Silvio. Ele estava terminando de se aprontar. Enquanto esperava, fiquei conversando com o dono do hotel. Falamos sobre o mercado hoteleiro de Abadiânia. Euro e dólar circulam pelo comércio local. Segundo ele, as meninas mais “dadas”, abordam os turistas com a seguinte frase: “Euro amo, tenha dólar de mim.” A questão mais interessante discutida foi: O que será de Abadiânia quando João de Deus morrer? Interessante esta reflexão. Mediunidade não é algo que se passa de pai para filho.
Às 7h30, Silvio ficou pronto. Atravessamos a BR para tomar café numa padaria e às 8h começamos a pedalar. Antes de sair da cidade, passamos pela Casa de Dom Inácio. Há grande estacionamento em frente, tudo é muito bem cuidado e limpo, as construções estão pintadas de azul e branco. As pessoas começavam a chegar para a sessão do dia. Algumas pousadas do entorno são bem grandes.
Saímos da cidade pela rodovia GO-338, por onde descemos sete quilômetros. No meio da descida há uma cerâmica abandonada, cujas torres das fornalhas resistem em pé.

No final da descida passamos pelo Rio Capivari e entramos pela estrada de chão que acompanha o Córrego Tamboril. Cruzamos as fazendas Capivari e Palmeira.

Para voltar ao asfalto enfrentamos subida dura, com média de onze por cento. Havia muitos urubus na área. Será que era por causa do cheiro da minha roupa? Temendo possível ataque, acelerei. 🙂 Uma seriema olhou-me desconfiada quando passei.
Atravessamos a rodovia no alto e seguimos pela estrada de terra do outro lado, que desce o vale do Ribeirão Caruru, passando por trechos de mata fechada.

Depois, outra escalada, para sair do Caruru e entrar no vale do Córrego da Posse. Do alto avistamos Posse d’Abadia, com sua igrejinha azul no meio da cidade. Rapidamente descemos, cruzamos o córrego e chegamos, com dezenove quilômetros de pedal, à terceira cidade histórica de nosso roteiro.

Abadiânia Velha ou Posse d’Abadia é o berço do município. O povoado nasceu em 1874, num vale fértil onde se instalaram agricultores vindos de Corumbá de Goiás. A devoção a Nossa Senhora da Abadia marcou a história da cidade e deu nome ao município.

Os casarões coloniais e a igreja são os destaques da arquitetura local.
Em agosto acontece a festa da padroeira. Vem tanta gente visitar Posse que a polícia militar é obrigada a fechar o acesso à cidade pois não cabem mais carros. Os romeiros acampam na praça pois não há hotéis. Durante a festa acontece também procissão de carros de boi.
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Demos uma volta pela cidade, observando as construções coloniais, a praça e a igreja.

Por volta de 10h, começamos a escalar a Avenida Corumbá para continuar nosso caminho, e foi aí que tivemos grata surpresa. Três carros de boi subiam pela avenida, sendo que um deles era bem grande, com cinco duplas de bois.

Chegamos na rodovia GO-338. Rodamos menos de um quilômetro por ela e voltamos para a terra. Chegamos novamente ao Ribeirão Caruru, região cheia de chácaras. Cruzamos o vale e subimos. No alto, confusão. Porteira fechada no caminho que eu havia mapeado. Placa pendurada na cerca deixava claro que a estrada havia sido desviada. O desvio parecia que nos levaria ao asfalto, o que queríamos evitar. Imaginamos que a ponte sobre o Rio Corumbá tivesse caído pois vimos alguns avisos pelo caminho. Mesmo assim, insistimos. Pulamos a porteira e seguimos pela estrada antiga. Poucos metros depois, a estrada entrou pelo pasto. Totalmente abandonada, esburacada e com curvas de nível bem altas tentando controlar a erosão, passamos com certa dificuldade, até chegar numa cerca e reencontrar a estrada. O desvio só dava a volta neste trecho ruim.
Chegamos rápido ao Rio Corumbá. A descida é forte e a visão da outra margem do vale assusta. No meio do período seco, o Corumbá estava com pouca água. Algumas pessoas acampavam na beira do rio. Havia crianças brincando, mulheres dormindo na sombra da mata ciliar, gente passeando pelas margens.
Observamos o rio, que naquele ponto recebe as águas de um pequeno riacho. A antiga ponte de madeira está em mau estado, interditada para o trânsito de veículos pesados.
Sem chorumelas, enfrentamos a íngreme subida da margem esquerda do Rio Corumbá. Escalada pesada, guidão no peito, forte calor, sem vento. Em dois quilômetros, 150 m de ascensão. No alto encontramos nossa redenção: o Bar do Fabrício. A coca-cola gelada foi um alento. O bar é movimentado. Tinha gente bebendo e jogando sinuca.

Trinta minutos de descanso e voltamos à atividade. A estrada ficou mais fácil. Logo depois da primeira descida, a bolsa do Silvio dobrou. Tivemos que arrumar um pedaço de pau e enfiar dentro para mantê-la esticada.

Depois da Fazenda Unicom, nas proximidades do Morro da Gameleira começamos a encontrar cavaleiros. Eles seguiam para Corumbá. Fomos passando por eles.

A descida do Córrego do Engenho é uma aventura a parte. São pouco mais de três quilômetros em que pudemos voar pela estrada. Passamos pelos últimos cavaleiros na subida do córrego. Os cavalos também se cansam nas subidas.
E assim chegamos na quarta cidade histórica de nosso roteiro: Corumbá de Goiás.
Entramos na cidade passando pela estreita e histórica ponte de madeira construída pelo engenheiro João José de Campos Curado (neto), membro da Missão Cruls, que estudou e delimitou o território do Distrito Federal. Sua construção começou em 1897, sendo finda em 1900. Durante setenta anos foi a única ligação entre os dois lados do rio no perímetro urbano. Durante a construção de Brasília, suportou o trânsito de caminhões que levavam máquinas, materiais e operários para a construção da nova capital.

Corumbá nasceu no tempo das bandeiras, em 1730, nas barbas dos garimpos do Rio Corumbá e Córrego Bagagem. Com a construção da capela de Nossa Senhora da Penha de França, o povoado cresceu.
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Depois de cruzar a ponte, seguimos até a hoje Igreja de Nossa Senhora da Penha. É uma bela igreja em estilo colonial.

O casario próximo também está preservado.
Além do atrativo arquitetônico, Corumbá tem em sua volta belíssimas cachoeiras, entre as quais se destaca o Salto Corumbá, que a torna destino agradável para o turista.
Visitada a igreja, fomos ao Restaurante Casarão, onde almoçamos. No caminho passamos pelo portal do Caminho de Cora Coralina, rota turística que vem ganhando notoriedade no país.
Durante o almoço decidimos mudar nossos planos. Nosso objetivo era passar pelo Salto Corumbá, subindo a BR-414, mas poderíamos perder o ônibus de volta a Brasília caso seguíssemos pela BR. Decidimos seguir o caminho tradicional, que passa pelo Córrego Bagagem e pela Serra do Abade. Esse caminho tem três obstáculos. O primeiro é sair do vale do Corumbá, subida longa e bem íngreme no início. O segundo é a areia que se acumula nas estradas durante a seca. O terceiro é o single cheio de pedras que acompanha o Córrego Macoã. O sol da tarde esquentou o clima e dificultou ainda mais o trajeto. Vencemos os três obstáculos e entramos na sombreada Estrada do Vale Dourado, que acompanha o vale do Rio das Almas e nos levou à rodovia de acesso a Pirenópolis.
Chegamos em Pirenópolis às 16h, a quinta cidade histórica de nossa viagem.
É difícil competir com Pirenópolis quando o assunto é turismo. A cidade é cercada de verde e montanhas. No meio do cerrado e matas da cidade correm rios de águas cristalinas que formam cachoeiras incríveis. A leste da cidade está a Serra dos Pireneus, guardada pelo parque homônimo, com trilhas, mirantes e cachoeiras. Mas se tudo isso não bastar, você tem ainda o centro histórico da cidade, com lindas igrejas e casario colonial preservado. A Rua do Lazer, com dezenas de restaurantes e bares, fervilha nos finais de semana, e o comércio, que ocupa a maior parte das casas coloniais do centro, tem muita coisa para mostrar aos turistas, como jóias, artesanato, objetos de decoração, roupas, souvenirs. A rede hoteleira da cidade tem opções para todos os bolsos.

Fundada em 1727, Piri foi fundada por bandeirantes que procuravam ouro. Inicialmente foi chamada de Meia Ponte, pois uma enchente derrubou metade da ponte sobre o Rio das Almas. Somente em 1890 ganhou o nome Pirenópolis, devido à Serra dos Pireneus, que por sua vez ganhou o nome por sua semelhança aos Pireneus, cadeia de montanhas entre França e Espanha.
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Cruzamos o centro da cidade, passando pela Rua do Lazer e sem tomar nem água, seguimos para a rodoviária. O ônibus já estava pronto para partir. Sem perder tempo, compramos as passagens, uma coca-cola e embarcamos no ônibus. Nem tivemos tempo de trocar de roupa.
Finalizamos nosso segundo e último dia de viagem com 73 km de pedal e 1435 m de subida.
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Chegamos em Taguatinga às 19h. Pedalar da rodoviária até Águas Claras foi a parte mais emocionante da viagem. Primeiro porque tivemos que seguir pela Avenida Elmo Serejo até o centro de Taguá, tomando fina dos carros. Depois, pegamos a ciclofaixa da Avenida das Araucárias. É incrível o pouco caso que pedestres e motoristas fazem da ciclofaixa. Tinha gente parada nela falando no celular, pedestres caminhando e carros atravessados impedindo nossa passagem. Vida de ciclista não é fácil!