Trilha Tarja Preta – 10/04/2021

Brasília, 10 de abril de 2021.

Tracklog: https://www.strava.com/activities/5108192989 ou https://www.wikiloc.com/mountain-biking-trails/tarja-preta-69655436

Tarja Preta. Preciso falar mais? Algumas trilhas não precisam de descrição, basta ver seu nome para entender o nível do negócio. Medicamentos de “tarja preta” são aqueles que apresentam maior risco para o consumidor, contendo, na embalagem, uma tarja preta com o seguinte texto:

“Venda sob prescrição médica. O abuso deste medicamento pode causar dependência.”

A tarja preta alerta o consumidor que o medicamento pode trazer graves riscos à saúde, inclusive dependência física e psíquica. Eles agem no sistema nervoso central, podendo causar sedação, e quando usados de forma inadequada, podem causar a morte do usuário.

O nome é bem adequado a esta trilha linda e desafiante desenvolvida no limite noroeste do Distrito Federal e no município goiano de Padre Bernardo, pelas Serras do Maranhão: ela pode até lhe matar, mas se você sobreviver, vai querer mais.

Quando fiz a trilha Cristal Elite, com a turma do Bike Top Team, deixamos marcada, para o dia 10 de abril, a realização da Tarja Preta. Tivemos quinze dias para treinar para esse desafio extraordinário. Se a Cristal Elite foi difícil, com seus 60 quilômetros e 1.865 metros de subida, imagine 80 quilômetros e quase 2.500 metros de subida. Esse tipo de trilha exige preparação, principalmente para ciclistas amadores como eu. Comecei a preparar-me na semana anterior. Treinos de subida, treinos de volume, descanso e nutrição devidamente planejados e executados.

Num desses treinos, Emídio estava presente. Fazíamos o Giro Incra, um pedal-treino que costuma acontecer duas vezes por semana, e entre assuntos corriqueiros comentei sobre o planejamento que estava executando para fazer a Tarja Preta:

– Estou treinando pra fazer a Tarja Preta na semana que vem. Trilha pesada, com mais de 2.500 metros de altimetria!
– Eu vou nesse pedal contigo – disse Emídio.

Olhei pro Emídio para ver se era sério. Era! Pensei comigo: “Esse homem tá corajoso”. Eu reflito muito antes de entrar num pedal desses. Prevejo como será a semana, se terei tempo de me preparar, se não há nenhum evento agendado para a véspera. Emídio é um ciclista experiente, e como eu havia contado os detalhes para ele, tanto do treinamento que eu fazia quanto da trilha, imaginei que ele sabia onde estava se metendo. Além disso, ele estava andando muito forte naquele dia.

No sábado pela manhã, segui de carona com Sérgio Madureira até o Restaurante Lima, ponto zero da trilha. Seu Manoel já estava por lá quando chegamos, abrindo o restaurante, e gentilmente nos serviu café. Logo chegaram os outros ciclistas do Bike Top Team: Anderson, Andrés e José Marcos. Finalmente, chegou Emídio trazendo dois amigos: Elton e Menezes.

Evandro, José Marcos, Andrés, Anderson, Sérgio, Emídio, Elton e Menezes

Conheço Elton e Menezes de longa data. Já pedalei com eles em outras ocasiões e sempre se mostraram ciclistas fortes. Antes mesmo do bom dia, eles avisaram-me que estavam sem o tracklog da trilha. 😳 Acendeu uma luz amarela na minha cabeça. Existem várias formas de fritar um ciclista e eu já fui vítima de várias delas. Andar muito fora do ritmo é uma das formas mais comuns de fritura, seja além, tentando acompanhar algum galáctico, seja aquém, tendo que esperar alguém que pedala mais devagar do que você. Como eles estavam sem GPS e foi por minha causa que eles estavam ali, teria que os acompanhar. Como estaria o ritmo deles? Veremos!

Com essa luz de alerta acesa em minha mente, conforme combinado, partimos pontualmente às 7 horas. Seguimos pela DF-205, rodovia sem calçamento, por quinze quilômetros no sentido leste. A poeira levantada pelos carros e caminhões que circulam diariamente pela rodovia já cobria a estrada.

O pelotão seguia coeso e Andrés havia dito que parariam no final do trecho de estradão para reagrupar. Fiquei com isso na cabeça, e os problemas começaram aí. Eu seguia com Menezes na cozinha e quando chegamos na tal saída, não havia ninguém. Emídio que seguia poucos metros à minha frente não parou e seguiu pela estrada. Gritei, chamei-o, mas ele não me ouviu. Imaginei que todo o grupo havia passado direto já que não havia ninguém por lá, como Andrés tinha dito. Fiquei com Menezes esperando a turma retornar pois havia pelo menos dois ciclistas com GPS à frente. Quinze minutos se passaram e ninguém voltou. Tivemos que ir buscá-los. Encontramos Emídio e Elton 1,5 quilômetro à frente. Eles já voltavam. Tinham seguido até perto do Rio da Palma (Buracão). Só eles haviam errado o caminho. Nessa brincadeira, perdemos mais de meia hora. Pedi aos colegas que não mais se aventurassem sozinhos pois correr atrás de ciclistas perdidos não faz parte da minha política.

Voltamos e retomamos a trilha. Saindo da DF-205, começaram as subidas. Logo vi que o dia seria longo: Elton subiu rápido, Menezes subiu bem, mas Emídio demorou. Subi até o alto, onde encontrei Elton esperando. Aproveitei para curtir o visual. A região é linda. Lá do alto fiquei olhando a estradinha saindo da rodovia e, no horizonte, a Chapada Imperial e o Lago Oeste.

Operação Pare-Siga

A partir dali, comecei a executar uma tarefa árdua que durou o dia todo: escalava e parava. Minha preparação prévia deu resultado, eu estava muito bem e subia aqueles morros sem dificuldade. Porém, em cada bifurcação, tinha que parar para esperar os amigos pois eles não sabiam o caminho e estavam lentos. Pedalar assim é muito difícil. Nomeei essa tarefa como Operação Pare-Siga.

Eu ainda tinha esperança de alcançar o pelotão dianteiro, mas qualquer tentativa de acelerar o ritmo terminava com um período maior de espera na próxima encruzilhada.

Apesar dessa sofrência, pelo menos eu tinha muito tempo para curtir a paisagem, e são tantas paisagens nessas serras que dava gosto ficar lá olhando.

Essa região é de difícil acesso. As estradas foram construídas no alto dos morros para evitar os profundos vales, mas mesmo fazendo isso, certos trechos da estrada são tão inclinados que impedem a circulação de carros convencionais. 

Foi esse isolamento que preservou sua natureza, transformando a região em abrigo para a fauna que foge das áreas invadidas pelas cidades e pela agricultura. Avistamentos de grandes felinos são corriqueiros. A ONG Brasília é o Bicho costuma instalar câmeras nessas serras para registrar a presença de animais selvagens.

Toda vez que eu parava para esperar os amigos e eles alcançavam-me, eu tentava partir assim que eles chegavam, mas eles sempre paravam. Estavam muito cansados e Emídio era o pior. A expressão no rosto dele me dizia que eu estava correndo risco de vida. Emídio é proprietário de uma empresa de segurança e parece um armário, tanto que seu apelido entre os amigos é Montanha. Eu acho que ele se arrependeu de ter se candidatado a participar dessa trilha. Ele olhava para mim com uma cara de ódio que me dava medo. Eu até conseguia ler seus pensamentos: “Se eu soubesse o caminho eu matava esse Evandro!” 😂😅🤔😳

Do quilômetro 15 da trilha até o quilômetro 35 (no Wikiloc), tem-se um verdadeiro tobogã. São 750 metros de subida acumulada nesses vinte quilômetros. Aos 31 quilômetros passamos pelo ponto mais alto de toda a trilha, um espigão longo e estreito, 1.009 metros de altitude.

Cruzando o espigão, ponto mais alto da trilha.

O vídeo abaixo registra parte da subida desse espigão.

Passado o espigão, finalmente começamos a descer. A cada curva mais e mais paisagens incríveis descortinavam-se entre os morros e vales.

A Operação Pare-Siga seguia. Estávamos a poucos quilômetros do Rio do Sal quando passamos por um aglomerado de casas de fazenda à beira de um profundo riacho. Pedalei um quilômetro para sair do fundo do vale e parei no alto sob uma boa sombra para lanchar. Eram 11 horas da manhã e a turma já pedia parada. Estávamos aproximadamente na metade da trilha.

Depois de comer, quando já nos preparávamos para sair, uma Ford F-4000 com carroceria boiadeira veio pela estrada e parou ao nosso lado. O nome do motorista era Léo e ele iria até a fazenda que havíamos cruzado para buscar alguns animais. Léo fez uma caridade: deu-nos uma garrafa térmica cheia de água gelada. Como eu ainda tinha bastante, deixei os amigos encherem suas caramanholas, mas ainda sobraram alguns goles para mim. Léo avisou-nos que o pelotão dianteiro estava muito longe, como eu imaginava. Eu até cheguei a perguntar se Léo voltaria com a carroceria vazia, podendo, assim, levar o Emídio que até ali era o mais cansado, mas ele avisou que voltaria carregado. 😔 

Voltamos ao pedal. Passamos por uma capela, saímos da fazenda e começamos a subir morros novamente. Emídio, que estava quase frito, depois do almoço melhorou, passando a âncora para o Menezes, que passou a arrastá-la. ⚓

Acho que tínhamos subido mais dois morros quando Léo voltou e só parou quando me alcançou. Novamente ofereceu água. Dessa vez eu enchi meu camelbak. Os colegas foram chegando e também reabasteceram suas caramanholas. O calor do meio-dia aumentou muito nosso consumo de líquidos.

A situação do meu pelotão estava crítica. Não podiam ver uma sombra que já íam encostando. Eu esperava-os e tentava sair rapidamente quando eles me alcançavam, mas não adiantava pois eles também paravam. A Operação Pare-Siga foi minando as minhas forças. Eu enfrentava um dilema: minha vontade era pedalar rápido e fazer a trilha render, afinal, daquele jeito, além de eu correr risco de fritar, Sérgio teria que me esperar muito. Mas como eu era o guia do meu pelotão, eles ficariam perdidos caso eu os abandonasse.

Em uma dessas paradas pude observar, ao longe, o ponto culminante da trilha, que havíamos passado antes do almoço.

Essa região é linda. Devia ser transformada em parque estadual. Sugiro até o nome: Parque Estadual das Serras do Maranhão.

Chegamos ao Rio do Sal, ponto mais baixo da trilha: 720 metros de altitude.

Depois de algumas fotos, voltei logo a pedalar pois o Emídio já estava querendo tomar banho no rio. Não tínhamos tempo para isso. A saída do vale do Rio do Sal é a maior escalada de toda a trilha: 5 quilômetros com 247 metros de ascensão. A estrada sobe acompanhando um riacho afluente do Rio do Sal e depois desce para a região conhecida como Mato Feio. É nessa área que fica o único bar da trilha, mas nós não paramos. Eu até queria, mas só descobri que o bar ficava ali, no quilômetro 53, quando a trilha terminou.

Logo depois do bar, paramos na entrada de uma fazenda. Percebi que tinha sinal de celular e tentei enviar mensagem para o Sérgio. Eram 14 horas e ainda faltavam mais de vinte quilômetros para terminarmos a trilha.

Como havia prometido aos amigos, três quilômetros depois chegamos à fazenda onde poderíamos nos reabastecer de água. É uma fazenda cuja sede fica ao lado de uma represa, nas nascentes do Córrego Mato Seco. Há uma torneira de água potável perto do curral, de fácil acesso. Enchemos nossos reservatórios. Menezes até lavou sua relação, pois achou que estava muito suja.

Voltamos ao pedal descendo até o Córrego Mato Seco e cruzando-o pela ponte. Atravessamos um mata-burro e começamos a subir o outro lado do vale.

Quando Menezes começou a fazer força, creck! Sua corrente quebrou. 😖 Voltamos à sombra da mata ciliar e fizemos o reparo.

Mais trinta minutos gastos. Pelo menos Emídio e Elton, que não pararam para ajudar, tiveram muito tempo para descansar.

Retomamos o pedal. Apesar da corrente ter sido remendada, o câmbio ficou avariado e não trocava mais as marchas. Encontramos Emídio e Elton descansando numa sombra no alto do morro. Passamos por um colchete e entramos em outro trecho que é um tobogã. São aproximadamente vinte quilômetros de sobes e desces constantes. Como eu fiquei sozinho para fechar o colchete, aproveitei a parada e tentei ligar para o Sérgio. Consegui! Expliquei-lhe a situação do grupo e pedi que fosse embora. Ele tinha terminado a trilha às 14 horas. Eu já imaginava que isso aconteceria e até já o havia alertado: “Se eu demorar muito, pode ir embora.” Sérgio queria esperar, mas eu insisti que ele fosse para sua casa pois eu daria meu jeito. Ele concordou e eu fiquei mais tranquilo.

Passamos por um trecho bem bonito e selvagem. Um morro em forma de cone marca esta área, estando sempre presente na paisagem.

A turma seguiu e esperou-me numa porteira. Quando eu cheguei, eles já haviam pulado a porteira e esperavam-me do outro lado. Pulei também e seguimos pela estrada, que desceu forte e passou por uma represa. Quando íamos começar a subir, vimos dois cavaleiros vindo em nossa direção, puxando um burro bravo. Eles avisaram que nós estávamos no caminho errado. Eu conferi o tracklog e realmente tínhamos errado um pouco. O caminho seria por dentro do pasto, entrando lá na porteira, por um caminho mal definido. Quando viramos as bikes e começamos a subir, ouvi algo caindo dentro d’água. Foi o burro. Ele estava muito assustado e pulou na água. Os cavaleiros ficaram por lá, tentando tirar o burro da represa, e nós seguimos.

De volta à porteira, pulamos a cerca e voltamos ao nosso caminho. A estrada enveredou-se por um caminho estreito e engrunado e depois de passar por pequena mata acessamos uma estrada. Cruzamos um riacho a vau e começamos a subir.

A estrada passou pelo meio de dois morros, longa ladeira, exatamente no rego entre eles, havia até alguns trechos concretados. Paramos no alto para descansar alguns minutos. Menezes estava mal, mas ainda vivo e com bom humor.

Evandro e Menezes

Voltando ao pedal, quando passávamos por uma fazenda cheia de cavalos, um carro apareceu na estrada. Já fui saindo da frente para deixá-lo passar, pois o caminho era bem estreito. Mas o carro também saiu da estrada e quando olhei, vi que era o José Marcos que veio nos resgatar. 🤔

O resgate frustrado

A ligação que eu fiz para o Sérgio não estava lá muito boa e talvez a comunicação truncada tenha provocado nele a impressão de que precisássemos de ajuda. Preocupado, Sérgio retornou ao restaurante e comunicou nossa situação aos colegas do Bike Top Team, que terminaram a trilha às 15 horas. Eles não pensaram duas vezes e, empaticamente, foram ao nosso encontro com seus carros.

Tenho certeza que não foi fácil nos encontrar. Cruzaram rios a vau, transpuseram valas, percorreram carreadores estreitos, subiram escorregadias ladeiras de cascalho, passaram por pontes em péssimas condições, sujaram os carros, gastaram gasolina (que hoje vale ouro). Essa é uma atitude que não tem preço e todos nós seremos eternamente gratos. 🤝

Mas, apesar de tudo, dos meus companheiros de trilha estarem lentos, apesar do cheiro de fritura no ar 😂, apesar da corrente quebrada e do câmbio estragado, estávamos pedalando unidos e ninguém pensava em desistir. Apesar das “fases caídas” de Emídio e Menezes, a “meia fase” de energia que lhes restava era suficiente para terminar a trilha.

Como tinha apenas um carro, imaginei que seria suficiente para levar apenas uma bike. Aconselhei Menezes: “Cara, a chance de seu câmbio quebrar de vez é grande. É melhor você entrar no carro.” Mas Menezes não quis, apesar do risco e apesar do cansaço. Emídio também estava apto a entrar no carro, devido ao seu estado físico, mas também não quis. Elton e eu estávamos bem e nada me faria desistir de completar aquele desafio para o qual eu havia me preparado durante quinze dias. Pense bem, você desistiria? Faltavam “apenas” vinte quilômetros.

A situação ficou estranha. Eu não poderia forçar os meus “fritos” a entrarem no carro. 🤷‍♂️ Todos nós agradecemos a José Marcos pelo empenho. Ele manobrou o carro e voltou pela estrada. Seguimos pela trilha e logo à frente encontramos outro carro vindo nos buscar. Era o Anderson. José Marcos já havia lhe contado que nós recusamos o resgate. Eles ficaram decepcionados (putos da vida, eu diria).

Que situação! Apesar do estresse que passei o dia todo com a Operação Pare-Siga, esse resgate frustrado provocou em mim o momento de maior nervosismo de todo o dia. Já eram 16 horas e se os dois mais lentos tivessem aceitado o resgate, talvez economizássemos uma hora de pedal, mas para quem estava cagado, um peidinho de uma hora não faria a menor diferença. 😂 O que me deixou estressado foi saber que meu amigo Sérgio ainda estava lá no restaurante, sendo que poderia estar em casa. Além disso, Anderson e José Marcos também já poderiam ter ido embora, mas preferiram vir ao nosso encontro, enfiando seus carros naquela estrada difícil, e nós recusamos sua ajuda. Situação muito delicada para todos. Os colegas socorristas passaram por nós de cara feia e foram embora. 😔 Eu entendo os dois lados. Coloque-se nas duas situações e reflita. Como as relações humanas são difíceis! 

Minha reação foi acelerar. Subi aqueles morros mais rápido ainda, mas é claro que não pude ir muito longe pois logo chegou outra bifurcação e tive que parar. 😖 

Cruzamos o Ribeirão das Salinas e finalmente chegamos à entrada da Fazenda São Sebastião. Dali até o restaurante são apenas oito quilômetros.

Passei pelo Córrego Monjolinho e esperei os amigos poucos metros depois, em frente a uma casa de fazenda. Três cães vieram correndo pro meu lado. Eu parei e, como de costume, eles também. Fiquei batendo papo com os cãezinhos, enquanto Emídio e Menezes não chegavam. Dei-lhes um pedaço de geléia de mocotó e até pedi aos cachorros que fossem estimular os colegas a pedalarem mais rápido, mas eles estavam esperando mais mocotó e ficaram comigo. Abri um pacote de Salamitos que trazia no bolso e compartilhei com os amigos caninos. Eles ficaram malucos de felicidade!

Logo depois passei por um trecho de mata fechada e bem no meio dela havia uma bifurcação. Parei novamente. Havia lama na estrada. Aproveitei a oportunidade para comer o último Salamito do pacote e quando fui tirá-lo da embalagem, ele caiu no meio da lama. 😡 Eu fiquei irado! Todo o  estresse acumulado durante o dia veio à tona em xingamentos impronunciáveis nesse texto. Nunca imaginei que pudesse gritar tão alto. 🤬 Meus gritos ecoaram pela floresta. O estresse passou depois do grito. 😁

Saindo da mata, encontrei Elton deitado à beira da estrada. Ele disse que estava passando mal, mas eu pensei que era brincadeira.

Quando Emídio e Menezes chegaram, descansaram um pouco e logo seguimos.

O sol já estava se pondo quando cheguei à última bifurcação. Elton logo me alcançou e disse que se eu quisesse seguir ele esperaria Emídio e Menezes já que não havia mais como errar o caminho. Eu segui, afinal, Sérgio poderia ainda estar no restaurante me esperando.

O sol já se escondia atrás dos morros e árvores quando cheguei à BR-080. Uma coisa eu tenho que agradecer aos amigos que me prenderam até as 18 horas na trilha: ver o sol de fim de tarde lambendo aqueles morros, matas e vales foi lindo.

Cheguei ao restaurante às 18h30. Só o carro do Emídio estava por lá. Os amigos chegaram vinte minutos depois. Tive que desmontar a bike e colocá-la no porta-malas do carro do Emídio pois o rack já estava cheio de bicicletas.

Elton realmente estava passando mal. Vomitou logo que chegou ao carro e depois, no caminho, tivemos que parar para ele vomitar novamente. Elton perdeu 5,3 quilos de peso nessa trilha. 😳

Cheguei em casa às 20 horas. A patroa já estava me esperando com o pau de macarrão na mão. 😂 Foram 85 quilômetros, 2.855 metros de subida, 6h37min. pedalando e 4h21min. parado.

Assim como os remédios de tarja preta, consuma esta trilha com moderação, pois pode causar morte ou dependência, e só vá se estiver preparado pois o negócio é bruto!

Obrigado, amigos. A trilha foi sofrida, mas valeu a pena. 🤝🤝🤝

8 comentários sobre “Trilha Tarja Preta – 10/04/2021

  1. Evandro, que belíssimo relato, meu amigo! Acertei na decisão de não acompanharmos nessa saga. Você foi muito parceiro ao se submeter a esse sofrimento, quando já poderia estar em casa. Pouquíssimas pessoas fariam o que você fez, mas ficam muitos ensinamentos depois de tudo. É o tipo de relato que todo ciclista deveria ler! É importantíssimo o estudo da distância e altimetria (e a forma como a altimetria é distribuída ao longo da rota). Um pedal desse é pra gente “muiiiito preparada” física e mentalmente. Outra lição importante é aquele “briefing” inicial deixando bem claro como a trilha vai se desenrolar. Abraço, amigo!

    Curtido por 1 pessoa

  2. Excelente relato Evandro, esse para e espera realmente mata. O ideal é analisar bem antes as condições físicas para encarar um desafio como esse.Parabéns pelo esforço 👏🏼🙏🏼🚴🏻‍♀️🙏🏼

    Curtir

  3. Cara que história incrível. Superação sem limites. Eu também não desistiria de terminar essa belíssima trilha, a final voltar para terminá-la seria uma “dose crítica de Tarja Preta” kkkk. Espero um dia fazê-la. Parabéns a todos os envolvidos. E vamos pedalar.

    Curtir

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s