Botucatu, 10 de abril de 2005
por Evandro Torezan
Google Maps: Sítio São Francisco
E eu pensando que iria ser fácil …
A segunda etapa do campeonato Pró-Cuesta de trekking foi no sítio São Francisco, no Córrego Fundo. Local belíssimo, com uma visão maravilhosa do vale do córrego, que realmente é fundo (o vale), e coberto de mata.
O dono do sítio resolveu fazer sua casa na beirada do morro. Chegar bêbado ali é perigosíssimo.
Foi neste platô que começou a prova. Para chegar lá, em vez de irmos de carro, preferimos ir de bike. Encontramo-nos no balão ao lado da caixa d’água da Sabesp perto de minha casa. Jefferson e eu fomos os últimos a chegar. Dali até o sítio foi só descida. Do balão até o início da estrada foram quinhentos metros de asfalto, depois, mais três quilômetros de estrada de chão até o Sítio São Francisco.
Quando chegamos, o ônibus da Staroup já havia chegado. Ainda eram 8h30 e tínhamos que esperar até às 9h40, quando largaríamos. Amarramos as bikes numa árvore.
Esta prova teve particularidade interessante: pela primeira vez no circuito seriam os trekkers que marcariam o caminho da metade da prova em diante, e nós, os primeiros trekkers, seríamos os pioneiros.
Nossa equipe, dessa vez, tinha cinco integrantes: Daniel, Jefferson, Houtan, Ricardo e eu.
Às 9h40, partimos. O início da prova foi a parte mais difícil. Depois de alguns metros pela estrada, começamos a subir o morro.
O terreno arenoso, com muitas pedras soltas, praticamente inviabilizava a manutenção da velocidade requerida na planilha. Próximo ao topo do morro entramos em trilha pelo meio da mata. Encontramos algumas equipes graduadas (Sacy, Tartaruga, Onkovo) totalmente perdidas.
Foi um longo trecho dentro da mata. Deve haver aranhas bem grandes neste lugar, baseando-se no tamanho das teias que encontramos.
Deixamos a mata ao passarmos por uma cerca. Estávamos na crista do morro, por onde seguimos até uma árvore marcada com fita. Que visão do vale!
Foi aí que perdemos a prova. Teríamos que descer o morro por uma trilha, seguindo determinado azimute, mas não achamos a trilha. Descemos o morro seguindo os graus indicados e não encontramos as próximas referências. Havia um PC a cinquenta metros de nós, mas não achamos que deveríamos passar por lá. Até gritei ao PC perguntando se deveríamos passar por lá mas ele, corretamente, omitiu a resposta. Deveríamos ter passado. Perdemos o PC.
Já estávamos bem atrasados. Vi ao longe a próxima referência, bem clara, e corremos pra lá. Dali, seguimos pelo pasto até a trilha onde passamos a ser os pioneiros. Os graduados seguiram à direita e nós à esquerda. Apesar de sermos os primeiros a passar não encontramos problemas. Mais alguns quilômetros de trilha entre vacas e PCs e chegamos ao neutral. É bom ser a primeira equipe a chegar ao neutral. Tudo arrumadinho, no lugar, as melhores frutas esperando-nos.
Depois do neutral entramos na parte úmida da prova. Mais de um quilômetro percorrendo o leito pedregoso do Córrego Fundo. Os únicos sustos foram: Daniel foi refrescar-se no riacho, perdeu o equilíbrio ao sentar-se e quase enfiou o Totem na água; Jefferson perdeu o equilíbrio ao atravessar uma cerca que cruzava o rio e, para não cair, apoiou-se no fundo com a mão, encharcando sua planilha.
Quando encontramos um pneu na margem do rio, entramos na mata. Mas a primeira equipe graduada chegou junto conosco já que a velocidade deles é maior. Já na trilha, mais uma equipe graduada passou-nos. E assim fomos seguindo morro acima pelas trilhas da mata. As equipes “Os Mutley” e Desnorteados seguiam-nos de perto. Obviamente adiantados, eles aproveitaram-se de nosso eficaz controle de tempo e só distanciavam-se quando nos viam chegar aos PCs.
Deixamos a mata e entramos na estrada de acesso ao sítio. Logo deixamos a estrada e pegamos trilha morro acima. Foi assim que chegamos ao local de mais bela vista da prova: a mata cobrindo o vale do pedregoso e límpido Córrego Fundo.
A partir daí fomos descendo o morro em direção à estrada. Em certo ponto do morro, ouvimos um grito: “- Olha o PC aqui.” Era um PC mesmo, mas ainda estávamos longe dele. Se o PC que perdemos fosse igual a esse não o teríamos perdido.
Novamente na estrada, seguimos para a chegada.
Decepção total. Ficamos em quarto lugar. Até uma das equipes da Staroup superou-nos. As equipes que vieram nos seguindo ficaram em primeiro e segundo lugares. Se não tivéssemos perdido o PC teríamos feito menos de 500 pontos, metade dos pontos da equipe que ficou em primeiro.
Pelo menos pudemos curtir a piscina do sítio no final.
Depois da premiação pegamos as bikes para subir a serra. Sugeri que esperássemos o ônibus da Staroup partir, mas o Ricardo quis sair antes e ir na frente. Eu saí rápido e enfrentei a subida. Estava a cerca de um quilômetro do fim da estrada, no Jardim Monte Mor, quando o ônibus da Staroup alcançou-me. Parei embaixo de uma árvore para esperar a turma.
É uma subida muito difícil e o pessoal sofreu muito para vencê-la. Quando o ônibus da Staroup passava por nós era uma gritaria generalizada da turma nos zoando. Bem que eu avisei para esperarmos ele saírem.
No campeonato, nada definido. A luta continua.
Evandro, e demais companheiros de aventura da equipe Pé na Trilha.
TEMPOS HERÓICOS, INESQUECÍVEIS!!
Sinto muitas saudades desses tempos, da equipe, dos amigos (tanto da equipe quanto das outras equipes), pois havia uma camaradagem saudável.
Que fantástico esse esporte, o Trekking (ou enduro a pé), pois nos proporciona uma atividade ao ar livre, contato com a natureza, atividade física (moderada). E requer planejamento, organização, trabalho de equipe, tomada de decisões, desafios, e acima de tudo, do momento da largada até o final da prova, é concentração total, o que faz esquecer da rotina diária, eliminando o estresse.
Olhando esse relato nos damos conta que a vida nos proporciona momentos, e que temos que aproveita-los, pois o tempo não volta atrás.
O Criador nos presenteou com essa existência, e temos que um tempo limitado, pela validade dos nosso corpos físicos, para aproveitar nossa passagem por essa vida. Aproveitar para crescer em valores éticos e morais, e também para desfrutar de momentos como esses.
Agora eu só queria entender como é que o Evandro consegue lembrar desses detalhes. Eu estava lá e não vi ele fazendo anotações em nenhum diário de bordo (e se o fizesse acho que a equipe iria protestar, já que ela era nosso navegador principal). Mas pode ser que ao chegar em casa ele tivesse um diário, ou ele tem uma memória de elefante.
Um grande abraço para os companheiros Houtan, que passou um tempo fazendo estágio ou especialização na UNESP de Botucatu, mas é americano, e deve estar morando na Califórnia, sua origem, com a esposa brasileira, e já teve ter alguns filhos. Ao Daniel, nosso competente “contador de passos”, que não faço ideia por onde ande (imagino que em algum navio de cruzeiro, dando aulas de dança, em alguma parte do mundo), ao Evandro, que suponho esteja de volta a São Paulo, e com uma penca de filhos. Muitas saudades de todos, e um grande abraço.
Ricardo Pires Pereira
Directo de la ciudad Nuestra Señora de la Asunción, capital federal de la República del Paraguay.
Que por sinal, vai eleger um novo presidente (e mais governadores, deputados e senadores) nesse próximo domingo 22/04/2018 – e não se vê quase nenhum barulho, ou sugeria nas ruas, pois as campanhas aqui não são multimilionárias (porque será?).
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Grande Ricardo! Saudades de você, meu amigo. Poderíamos reunir a equipe Pé na Trilha para fazer uma prova do Procuesta qualquer dia desses. Quem sabe no segundo semestre consigamos marcar algo.
Sobre minha memória de elefante: eu tenho anotações de nossas aventuras, e quando vou escrever, refaço mentalmente nossas trilhas, o que me faz lembrar de muitas coisas.
Abração.
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