Trekking noturno Fazenda Mac – Botucatu/SP – 03/06/2006

Botucatu, 3 de junho de 2006

por Evandro Torezan

Trinta anos! Você já se imaginou com trinta anos de idade? Eu me imaginava casado, sem filhos e com casa própria. Mas a vida não é algo que se controla em todos os detalhes. A vida tem seu próprio tempo e leva-nos por caminhos inusitados. Neste dia, em que completo três décadas de vida, estou casado, já tenho um filho e não tenho casa. Em nenhuma de minhas previsões eu estaria morando no interior de São Paulo, muito menos que seria integrante de uma equipe de trekking (enduro à pé), esporte que conheci há um ano e meio.

A quarta etapa do Campeonato Procuesta de 2006 foi na Fazenda Mac, a vinte quilômetros de Botucatu, na rodovia que liga a Castelinho (SP-290), à cidade de Pardinho. Esta foi a etapa noturna do campeonato, a mais difícil e aguardada. Daniel, Ricardo e eu compusemos a equipe Pé na Trilha.

O check-in foi na sexta-feira, o que nos deu tranquilidade no sábado. Chegamos à fazenda com uma hora de antecedência. Já havia escurecido e apesar de o local ser bonito nada vimos. A lua crescente iluminava parcialmente a noite. A estrutura da prova foi montada num galpão de festas, ao lado de uma represa. As provas noturnas sempre começam com mais adrenalina do que o normal, pela dificuldade que apresentam.

Iniciamos a prova às 19h06. Seríamos a terceira equipe a largar mas uma das equipes faltou e acabamos sendo a segunda. Apesar da tensão, iniciamos a prova com tranquilidade. No início, os passos do Daniel estavam maiores do que o normal, o que nos fez entrar num pequeno brejo por engano. Mas logo percebemos o erro e voltamos para o caminho certo.

O Ricardo estava atento e foi muito bem. Passou informações corretamente para o Daniel e andou na última posição, conferindo meu trabalho de navegação e varrendo nosso entorno com sua poderosa lanterna. Foi ele que encontrou o segundo PC, que acabamos passando um pouco longe.

Seguindo pela fazenda, passamos por belos locais. Lagos, matas, trilhas. O primeiro trecho de mata foi de quinhentos metros, passando por trechos bem fechados.

Depois do neutral, que foi bem próximo à largada, fomos ao lado oposto do lago. Foi um longo e confuso trecho de trilhas mal definidas e referências em árvores isoladas. Mesmo assim, percorremos tudo com perfeição. Assim, chegamos a outro trecho de mata às margens da rodovia. Chegamos na pista, que estava toda iluminada com tochas de advertência para que os carros passassem com cuidado. Andamos cerca de cem metros pelo asfalto antes de entrar novamente na mata. Agora, por picadas, andamos cerca de duzentos metros até entrar numa pastagem, onde a organização abusou das referências de bússola, que nos levaram pelo pasto passando por cupins, árvores, trilhas e PCs.

Quando saímos do pasto, cruzamos estrada no início da represa e voltamos à trilha que havíamos percorrido minutos antes. Voltamos margeando a represa e entramos na parte final da prova. Entramos em área de mata fechada, numa picada larga, onde em certos trechos conseguíamos passar os três lado a lado. A medida total do trecho era de exatos 1212 m, mais uma ramificação de 230 m. Fomos andando pela trilha que ia ficando cada vez mais estreita. No local da ramificação deveria haver uma marcação indicando seu início, mas alguém tirou a marcação e acabou mudando a história da prova. Acabamos passando direto sem ver a entrada. Assim, fomos chegando cada vez mais perto da metragem final e cada vez mais preocupados com a possibilidade de termos errado o caminho. E o final chegou: 1212 m e nada da ramificação. Saí correndo por mais duzentos metros. Já estávamos perto da Castelinho. Nada. Seria impossível ter errado tanto. Voltamos. Todas as equipes já estava por ali perdidas. Dezenas de pessoas com lanternas nas cabeças entrando em todas as trilhas que encontravam. Parecia mais uma invasão extraterrestre do que uma prova de trekking. De tanto entrar nas trilhas, encontramos um PC. Era o PC final da ramificação. Agora, tínhamos noção de onde estávamos. Seguimos ao contrário e voltamos ao início da ramificação. Lá estava o Sílvio, montador da prova:

– Pessoal, o início era aqui. Algum bicho tirou a fita zebrada que colocamos. Vamos ter que cancelar a prova daqui pra frente.

Agora, era só relaxar, certo? Que nada. Quem garante que eles realmente cancelariam a prova? Corremos pelo meio da mata, depois por pastagens. Chegamos à estrada de acesso à fazenda e fomos os primeiros a terminar a prova.

Do galpão, aguardando a apuração dos resultados, observávamos as equipes correndo pela estrada. Dezenas de lanternas riscando a noite. Um quarto da prova acabou sendo cancelado.

E foi assim, numa prova conturbada, que conquistamos nossa primeira vitória na categoria graduados, fazendo apenas 350 pontos numa prova noturna, bem melhor do que os quatro mil e poucos pontos da prova noturna de 2005. Foi um ótimos presente de aniversário, uma bela noite entre amigos, fechada com chave de ouro, além dos vários cumprimentos e felicitações pela vitória e pelo aniversário.

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