Às 6h da matina cheguei no posto policial da quadra 103 de Águas Claras para mais uma trilha Pedáguas. Inventei uma trilha lá pras bandas do rio São Bartolomeu, para reconhecer a região que será usada como caminho para Formosa em breve. Os heróis da resistência que apareceram para a trilha foram Rogério, Zénrique e eu. Partimos para as longínquas paragens de São Sebastião, na vila Café Sem Troco, no caminho para Unaí. Deixamos o carro no famoso Posto Pedrão, destino costumeiro de speedeiros do DF.
Saímos pedalando pelo asfalto, rumo ao povoado Café Sem Troco. Café Sem Troco é o nome de um restaurante que existe no local há muito tempo. Em seu entorno cresceu a pequena comunidade rural.
Seguimos pela DF-130. Nosso objetivo era adentrar em uma fazenda, cujas estradas nos levariam à DF-120. Ao chegar na porteira da fazenda, uma placa logo dizia: “proibida a entrada”. Esperamos um pouco e um carro apareceu, saindo. A moradora foi logo avisando que não poderíamos entrar pois houve alguns incidentes no local, envolvendo ciclistas, e o patrão resolveu proibir qualquer um de entrar.
Então, voltamos um pouco pela DF-130, até entrar numa estrada de chão à esquerda. Um longo descidão nos levou até a estrada de uma fazenda. Do outro lado do vale já avistávamos a estrada que teríamos que subir.
Seguimos pelo meio do pasto, até passarmos por uma represa cujas águas passavam sobre a estrada. Atravessamos a água. A represa é abastecida pelas águas de uma vereda que nasce quase na BR-251, próximo ao posto Pedrão. Seguimos pela estrada que é bem íngreme. A estrada segue pelo meio do cerrado. Chegando no alto, encontramos trilhas que íam em direção à vereda e fomos explorar o trecho.
Há trilhas que descem margeando a vereda. Descemos um pouco, mas não até o final. Voltamos e seguimos morro acima. Seguindo pela trilha, o Rogério enroscou-se numa árvore e foi ao chão. Felizmente, nada grave para ele, mas seu camelbak ficou no estilo mula-manca a partir dali. Logo chegamos no alto, nas margens da BR.
Seguimos margeando a BR, por trilha no cerrado, rumo sudoeste, e entramos em outra estrada de fazenda. Agora enfrentaríamos uma das partes mais difíceis do trajeto, pois começaríamos a passar por dentro das fazendas, junto às áreas habitadas. Terminamos a estrada e passamos a margear uma roça de milho. Depois, uma área de terra arada, com muito carrapicho.
De repente, entre nós e a estrada que precisávamos pegar, surgiu um barracão e uma casa. Logo os cães começaram a latir. E agora? Enfrentar os cães e moradores da fazenda e correr o risco de ser expulso da fazenda, ou voltar pelo mar de carrapichos? Preferimos a opção 1. Os cães nos recepcionaram com muitos latidos, e o capataz da fazenda ficou só olhando, de longe. Chamei-o e ele permitiu que eu me aproximasse. Explique-lhe nossa missão de reconhecimento e ele nos permitiu passar. Ufa! De quebra, ainda peguei seu telefone para que avisássemos na próxima vez que passássemos por ali.
Atravessamos a fazenda e seguimos agora pelas trilhas no cerrado, rumo ao rio São Bartolomeu. Foi uma boa descida pelo meio do cerrado, que terminou dentro de uma chácara. Passamos sem problemas e seguimos a estrada que vai margeando o rio até sair na BR.
Atravessamos o São Bartolomeu pela ponte da BR. Nossa missão era achar outra travessia do rio nas estradas de chão ao sul. Seguimos pela BR e logo entramos à esquerda. A estrada sobe um pouco, mas logo emboca na direção do São Bartolomeu. Tentamos uma passagem por uma chácara, ainda no alto, mas desta vez o meu caminho mapeado não existia. Ao nos aproximarmos do rio, encontramos um rapaz, que nos informou que há um trecho que é possível atravessar o rio a vau. Ele disse que sim, com água na altura do peito. Preferimos continuar pedalando. Depois, ainda passamos por um centro de recuperação de usuários de drogas. Pode parecer estranho, mas eles conheciam bem as marcas e modelos de nossas bikes. Um deles nos informou que haveria uma ponte em cerca de 20 kms.
A estrada adentrou na mata ciliar, onde conhecemos de perto o São Bartolomeu, e suas ilhas de areia. Em cada entrada, tentávamos encontrar a tal ponte. Depois, saímos da mata e continuamos por vários quilômetros. Até o sítio do Batman nós encontramos, mas nada de ponte.
Desistimos e voltamos. De volta à mata ciliar, nossa última tentativa foi num porto de areia, mas os funcionários logo nos avisaram que não tem jeito. Outra ponte, só na GO-010, na altura de Luziânia.
Então, voltamos. Na BR, ainda havia opção de subir por terra, explorando outro caminho, mas cansados que já estávamos, seguimos direto para o posto Pedrão, onde almoçamos.
Terminamos nosso pedal com cerca de 50 kms de trilhas.
E aqui, segue outra versão do relato, escrita pelo Zénrique.
Ainda não eram seis da manhã, o sol ainda pensava em nascer e a missão diplomática de reconhecimento do Pedáguas já estava reunida no ponto de encontro. Os embaixadores Evandro “Magneto” Torezan, Rogério “Up and Away” Prestes e José “White Walker” Henrique partiram para o reconhecimento de uma nova trilha, para explorar novos mundos, para pesquisar novas vidas, novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum pedaguense jamais esteve.
O ponto zero ficava “logo ali”, a alguns passos de Unaí. Mas tudo bem, imbuídos de seu melhor espírito aventureiro nossos exploradores dirigiram-se para o ponto zero: o simpático Posto Pedrão e de lá, devidamente equipados e entusiasmados saíram pedalando para o renomado restaurante que dá o nome à região: Café 100 Troco.
O objetivo principal era o reconhecimento da região. Alguns obstáculos se materializaram na forma de cercas e portões. No primeiro deles, nossa missão diplomática já não obteve sucesso. Apesar de intensas negociações, ofertas de presentes e promessas de bom comportamento, a comissão não foi autorizada a passar pela primeira fazenda com que se deparou. Mas a presença de corujas nas cercanias, um símbolo da sabedoria, dava esperanças de melhores acolhidas mais à frente.
Nossos embaixadores prosseguiram, então, com o plano B. Ao se depararem com outra fazenda, desta vez não esperaram para negociar e literalmente “pularam a cerca” (que suas digníssimas não leiam esse relato). Evitando contato com a civilização (e seus inevitáveis servos caninos) partiram rumo ao primeiro desafio. Ao se deparar com a primeira subiiiiida o embaixador Zénrique se alegrou. Poderia ser pior, pensou, podia ser uma descida (daquelas que acabam com as pastilhas). Fazendo jus a seu apelido, o aventureiro fez o possível para vencer o desafio, mas antes de alcançar a metade do caminho, desceu e empurrou sua bike. Logo mais acima, os companheiros (provavelmente por solidariedade) fizeram o mesmo.
Ao alcançarem o topo da montanha, os exploradores notaram que havia um single, logo abaixo, que contornava a estrada e permitia fazer o mesmo trajeto com menor esforço. Bem, pensaram, teremos então uma trilha com opções: um trecho em que se pode pegar a subida “Valderi Rage” ou single “Lu Pinheiro”, em que se atinge o mesmo objetivo com menor esforço. É apenas uma questão de escolha: ambos chegam ao mesmo ponto.
Nesse ponto vale o registro de um fato importante, o qual deverá ser inscrito nos anais do Pedaguas (ui!) e sempre lembrado. Nosso escalador, Rogério, num arroubo sentimental e ecológico, enroscou-se com uma árvore e, infelizmente para ele, ela levou a melhor. Como resultado do imbróglio, o colega que ficou “caidinho” resolveu lançar uma nova moda ciclohidratante: o CamelBack mula-manca. Parabéns embaixador Rogério! Sempre inovando e se antecipando às novas tendências do mundo fashion.
A partir daí foi um passeio pelo cerrado até chegarem à próxima fazenda e um milharal. Nesse ponto nossos embaixadores ficaram preocupados. Aquele trecho nitidamente poderia causar problemas. Após algumas discussões decidiram que se o Eduardo Magalhães participar da trilha deverá passar encapuzado por aquele trecho. A visão daquele frondoso milharal, com aquelas vistosas espigas de milho podem ser um fator de distúrbio e causar sabe-se lá que cenas constrangedoras para os demais participantes.
Nossos nobres enviados (no bom sentido) continuaram sua exploração pelos campos da fazenda. O presidente demonstrou que seu apelido não é sem razão. Indo à frente (como compete a seu cargo) foi atraindo todo e qualquer carrapicho existente pelo caminho. Deve ter terminado a trilha com pelo menos um quilo adicional em sua vestimenta.
Mais à frente o grupo encontrou uma casa e pode negociar com o proprietário a passagem por aquelas terras. Após a tradicional troca de presentes, nosso presidente firmou um tratado com o digníssimo senhor Tião, fiel guardião daquela área, o qual possibilitará a passagem de futuros comboios pedaguenses por aquelas terras.
O trecho seguinte foi de pura diversão. Uma agradável sequência de descidas e subidas com uma bela paisagem rural. Valeu a pena todo o tempo despendido em negociações com o Sr. Tião.
Após chegarem novamente a um trecho de asfalto (argh!) a comissão encontrou mais um nativo. Ao ser perguntado sobre a existência de uma possível travessia do rio que corta as cercanias (São Bartolomeu), o garoto informou que havia um trecho raso para travessia. Ao ser indagado o quão raso era, o rapaz indicou a altura do peito. Nossos exploradores nem consideraram verificar “in loco” a informação. Se a profundidade fosse aquela mesmo seria intransponível para o JP (talvez com um snorkel…) e como o Pedaguas é um grupo que não distingue seus integrantes em função de raça, credo, opção sexual ou mesmo altura, não seria uma trilha democrática.
A comissão optou por explorar a outra margem do rio, em busca de uma travessia que possibilitasse a passagem de volta. No caminho encontraram uma instituição de tratamento de dependentes de drogas. Do contato com alguns dos integrantes do local ficaram duas lições: a primeira é que, se a dependência tem cura, a língua portuguesa está longe de ser salva [“Drogas é uma ilusão” (sic), “drogas mata” (sic)… e outras tantas placas com essas inscrições cercavam o local]. A segunda é que, não se deve confiar em informações geográficas de pessoas que estão se recuperando de tal problema. A indicação de uma ponte imaginária foi a razão da segunda lição.
Mas, se a ponte não existia, o esforço não foi em vão. A comissão encontrou uma quase praia com uma quase cachoeira, mas sem vestígios de ponte. Mais a frente uma grata surpresa. Não era a Batcaverna, mas sim a Batchácara. Isso mesmo, nossos exploradores encontraram um dos esconderijos do homem-morcego. Infelizmente, Bruce Wayne não estava em casa para recebê-los.
Sem encontrar a tal ponte, a comissão optou por voltar pelo mesmo caminho. Em mais um contato diplomático, nosso presidente não conseguiu garantir a travessia, mas trouxe boas notícias. Já negociou o preço do caminhão de areia para a construção da futura sede social do Pedaguas. Parabéns Presidente!
Após tantas explorações a comissão decidiu encerrar os trabalhos e voltar ao ponto zero. Vencidas as subidas e dado ao avançado da hora, optaram por uma lauta refeição no restaurante do Posto Pedrão. Afinal, uma boa refeição, com churrasco, uma Coca-Cola de boa safra e sobremesa por menos de R$ 15,00 por pessoa é um achado.
Mas nem tudo foi explorado, nem todos os segredos revelados. Ficou a cargo do primeiro grupo a realizar a trilha Café 100 Troco decifrar o derradeiro enigma: afinal não há realmente troco quando se toma um café por lá? Aguardemos…
BLZ de relato e, afinal, já temos o tracklog dessa odisséia? A trilha será incorporada ao calendário? rsrs… Parabéns, guerreiros.
CurtirCurtir
José Luís, alguns meses depois deste exploratório, fizemos a trilha para Formosa. O problema é que asfaltaram quase todas as estradas que passamos. Por isso, nunca mais fizemos este pedal.
CurtirCurtir
Nossa! Que aventura! Deu vontade de estar junto!
CurtirCurtido por 1 pessoa