Desafio de Cristal – Parte 3 – Cristalina – 20/04/2015

Posto Ponte Alta, 20 de abril de 2015

https://www.strava.com/activities/289348395

O bom de ficar no Ponte Alta é que o café da manhã é no restaurante do posto. Nada arrumadinho. Você vai pedindo o que quiser. Pode-se comer quase tudo que eles vendem. Então, entramos com força na comilança: misto quente, iogurte, Toddynho, bolo, pamonha, suco de laranja, café com leite, etc. Garantimos também um misto para o almoço, e também comprei um mocotó para comer durante o dia. Se a tabela nutricional do mocotó estiver correta, a geléia de mocotó é a fonte mais barata de proteínas que existe. Ela dizia que uma porção de 40 gramas tinha 16 gramas de proteínas. Será?

Depois do café fui procurar um arame para tentar consertar meu alforge quebrado. Na borracharia não havia nenhum pedacinho pra eu usar. O borracheiro sugeriu que eu retirasse de uma cerca, ao lado do hotel. Foi uma boa ideia. Consegui o suficiente e fiz um reparo que não serviu pra nada. 😦

Arrumamos nossas coisas, pegamos água no freezer do posto e por volta das 8h começamos nosso pedal.

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Seguimos pela BR-050 por 4 kms e entramos numa estrada de terra, paralela à BR, por onde seguimos na sombra dos eucaliptos. Mais 2,3 kms e nos distanciamos da BR. Entramos na floresta. O chão estava muito liso e teias de aranha foram se prendendo em nossas cabeças. A bike, pesada, escorregava muito e tivemos que seguir com muito cuidado.

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Depois de 9 kms no meio dos eucaliptos, saímos da floresta novamente em lavouras de milho. Margeamos a lavoura até chegar numa porteira.

Ali começava uma das partes mais críticas de nosso desafio. Teríamos três travessias de rio em que eu não sabia se haveria ponte e, caso não houvesse, teríamos que dar um jeito de passar a vau.

O recado na porteira era claro: “Entrada proibida. Propriedade particular.” Discutimos um pouco mas resolvemos continuar. Pulamos a porteira com o já costumeiro trabalho de levantar as pesadas bikes. Descemos a estrada com cuidado e em silêncio. A sede da fazenda estava um pouco longe, o que nos deu segurança. Chegamos no ribeirão Castelhanos. Um charco, no fundo do vale, nos recebeu e nos apresentou uma nova cerca para pular. Aff!

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Logo à frente, uma grande dúvida: haveria ponte? Foi por pouco. Apenas três troncos da ponte restaram, mas estavam bem firmes e dois deles estavam cobertos de terra e mato, permitindo nossa passagem.

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O rio estava bem cheio. Se não houvesse ponte não teria como passar. Passamos empurrando pra evitar qualquer susto. Ufa! Primeiro desafio superado. Agora, tome subida, e mais milho. Depois de sair do vale do Castelhano, do alto, vimos uma outra ladeira forte subindo depois de cruzar um riacho.

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Depois de tanta subida, passamos à frente da sede de uma fazenda, que estava em obras, desta vez não deu pra desviar. Os trabalhadores nos olharam espantados, mas responderam aos nosso “bons dias”.

Chegamos numa área com pivôs centrais de irrigação. Descendo ao riacho, um afluente do Castelhanos, cruzamos uma ponte onde estava a bomba d’água dos pivôs. Esta região tem muita água mas, infelizmente, os buritizais estão sendo sistematicamente transformados em represas para irrigar as lavouras. Numa área foi possível contar 7 pivôs centrais em volta de um riacho. Duas represas foram criadas para armazenas as águas cristalinas deste riacho. O mundo precisa de alimentos, mas é uma penas ver os buritizais morrerem.

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Ao passar sobre o aterro de uma destas represas, um bica d’água gigante nos atraiu como um ímã. O calor era forte e não resistimos. Ficamos 30 minutos tomando um banho revigorante, com água à vontade. Os comentários sobre a falta d’água em SP dominaram o assunto neste nosso momento de fartura hídrica.

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No final da subida do riacho encontramos uma carreira de eucaliptos na estrada. Pegamos à direira e depois de alguns kms entramos no vale do ribeirão das Lages. Um cerradão bonito nos recebeu. Seguimos por ele, até virar à esquerda. O vale se abriu à nossa frente.

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O ribeirão é uma cicatriz profunda no relevo de Cristalina. Ele divide a parte sul do município ao meio e as pontes sobre ele são raras. Do outro lado as ladeiras são um desafio que de longe dá o aviso sobre o que vem pela frente. Descemos para o rio. A descida é forte e longa, mais um sinal de que subiríamos muito. Finalmente no rio, a ponte parece ter sido arrumada recentemente. Paramos um pouco sobre a ponte para ver o rio, que estava bem cheio.

Ali começou a última subida do dia. 32 kms de subida, começando no ribeirão das Lages e terminando em Cristalina. Eu sabia que teria subida, mas não imaginava que seria tanta. Como vimos lá de cima, sair do rio não foi fácil. A subida é bem íngreme, com inclinação média de 7%, mas no início a inclinação é de 18%, segundo o aplicativo Strava. Uma inclinação de 7% nos faz subir 7 metros a cada 100 metros pedalados. À medida que nos distanciávamos do rio, a inclinação foi diminuindo. No alto do vale acabou o cerrado e novamente entramos nos milharais. Monotonia … estradão chato, sem paisagens interessantes, só subida no horizonte e lavouras ao lado da estrada.

No quilômetro 52 chegamos na entrada do Balneário das Lages. Deixamos o resto da subida para mais tarde. Descemos voando a estradinha de chão, com peso na consciência, sabendo que teríamos que subir aquilo tudo pra voltar. Chegando no balneário, pagamos R$10 para entrar. Paramos num restaurante na beira do rio. De lá víamos, rio acima, a cachoeira, as corredeiras e várias piscinas rústicas, de pedra, construídas nas margens e abastecidas naturalmente. Rio abaixo formam-se praias de areia branca. Um grupo de adolescentes de um projeto social da polícia militar (Anjos da Rua), oriundos do Jardim ABC, estavam fazendo uma confraternização.

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Pedimos nosso almoço no restaurante. Almôndegas com mandioca. Prato inusitado de se encontrar naquele lugar. Enquanto esperávamos a preparação fomos conhecer as piscinas. A água das piscinas estava agradável, já que boa parte dela fica parada e é aquecida pelo sol.

O almoço estava ótimo. Depois de pagar a conta, procuramos um lugar pra descansar. Mas como era feriado, o local estava cheio e não encontramos um bom lugar. Sentamo-nos no gramado de frente para o salto principal do balneário e ficamos contemplando a paisagem. Depois entramos no rio. Água gelada. Há um tobogã natural onde ficamos escorregando.

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O tempo começou a fechar por volta das 14h e um chuvisco fino caiu sobre nós. Temendo uma chuva mais forte, começamos a nos preparar para o restante do caminho. Antes de partir tomamos uma água de coco, e foi aí que o vendedor nos perguntou se tínhamos conhecido as outras quedas. Não tínhamos. Ele nos explicou e subindo uma calçada ao lado do quiosque, vislumbramos as outras quedas. Quase perdemos a melhor parte do balneário. É um outro riacho, afluente do Lages, que forma estas quedas. Uma fica bem próxima à foz. Parece um bom lugar pra nadar, com um pocinho bonito e profundo. A outra, rio acima, é uma cachoeirinha mais larga, sem poço, mas de longe parecia muito agradável.

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Chegou a hora de voltar. Novamente enfrentamos a subida do vale do ribeirão das Lages. Neste ponto o vale é bem menos íngreme. Voltamos à estrada e apontamos a roda da frente para Cristalina. Da entrada do balneário até Cristalina, mais do mesmo: estradão chato. Apenas uma floresta de eucaliptos quebrou a monotonia e aliviou o calor com uma sombra providencial.

Às 16h30 Cristalina apareceu na nossa frente. Foi uma trilha muito difícil, o pior dia até agora devido à dureza dos 32 kms de subida.

Total do dia: 74 kms em 5h30min de pedal.

Entramos na cidade em busca de um hotel e acabamos nos hospedando no hotel Atiê, da família do atual prefeito da cidade. O hotel não é bom. Mais uma vez, cada um pegou um quarto. Eu e o Cristóvão pegamos quartos virados para os fundos. A.Pedro pegou um de frente, que tinha vista para a prefeitura.

DSC_0044Por volta das 7h da noite, saímos para jantar. Fomos ao restaurante do Bolinha e entramos com força no self service por pessoa. Comemos muito e degustamos um bom vinho comprado pelo Cristóvão, aliás, o nome do vinho era Travessia, bem pertinente para a ocasião. Cristóvão e A.Pedro beberam tanto que foram até convidados para frequentar o A.A. da cidade.

Quando voltamos para o hotel, uma surpresa desagradável: música ao vivo no bar da frente. Eu estava tão cansado que fui direto pra cama e dei graças por meu quarto ser de fundos. Minha noite foi muito bem dormida, ao contrário do A.Pedro.

Um comentário sobre “Desafio de Cristal – Parte 3 – Cristalina – 20/04/2015

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