Cristalina, 21 de abril de 2015
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O céu amanheceu nublado. Foi a noite mais bem dormida até agora, pelo menos pra mim. Quando bati na porta dos amigos eles estavam com cara de quem não tinha dormido nada. O show no bar da frente do hotel foi até tarde, e além disso, o barulho dos carros na rua incomodou-os muito.
Fomos para o café. Não foi bom, mas deu pra matar a fome. Partimos às 8h do hotel. A primeira parada foi no Cristo da cidade, para pedir proteção para nosso último dia de pedal e fazer uma bela foto.
A segunda parada foi num posto de gasolina para pegar água. Esses freezeres dos postos são a salvação dos ciclistas. Logo nos primeiros metros depois do posto meu câmbio dianteiro não queria trocar as marchas. Pensei que era o cabo, que deu problema no primeiro dia, mas logo vi que tinha um pedrinha travando o câmbio. Deu um pouco de trabalho para tirá-lo, mas saiu.
Pegamos a BR-040 sentido Brasília por alguns poucos kms, e depois de um posto de gasolina, entramos à direita. Uma chuva fina começou a cair quando deixamos o asfalto. Seguimos rumo às minas que existem ali, de areia e cristal. Numa curva do caminho encontramos uma carreta tombada. Estava carregada de milho e não conseguiu fazer a curva.
O caminho que eu mapeei entraria por uma estrada antiga, mas quando chegamos no local a entrada estava fechada por uma cerca bem feita. Para não ter que pular a cerca, seguimos pela estrada normal e entramos na área de uma mineradora. Fomos recebidos por vários cães que vieram latindo pra cima de nós. Um funcionário da mineradora afugentou os cães e falou conosco. Havia uma cancela exatamente por onde eu queria passar. Pela imagem de satélite foi possível ver vários lagos de água cristalina formados nas lavras abandonadas. Meu objetivo era mergulhar numa destas lavras e depois chegar na Pedra Chapéu de Sol. Não estava calor e já tínhamos desistido do mergulho, mas também fomos impedidos pelos funcionários de continuar nosso caminho previsto. Eles disseram que era proibido passar.
Voltamos até a última bifurcação e pegamos o caminho que seria nossa volta. Nas margens da estrada corria muita água, que se acumulou nos terrenos com as chuvas da noite anterior. Foram 3 kms até chegar na entrada do parque, onde há uma porteira. Eu nem sabia que ali havia um parque.
O Parque da Pedras é a reserva legal da Fazenda Sucupira. Nele está a pedra Chapéu de Sol, eleita em 2012 uma das 7 maravilhas do estado de Goiás. A Pedra é um enorme bloco de quartzito de aproximadamente 100 toneladas, equilibrada há milhões de anos, sobre uma base de pouco mais de um metro quadrado.
Embaixo da pedra há algumas pinturas rupestres que, segundo estudiosos, podem ter mais de 3 milhões de anos. O acesso ao parque, que antes era livre, passou a ser controlado devido às depredações que vinha sofrendo, como pichações, fogo, e até tentativas de derrubar a pedra.
A porteira estava fechada e uma placa dizia que as visitas tinham que ser agendadas. Era tarde pra isso. Já estávamos ali e não iríamos voltar. Mais uma vez pulamos a porteira com nossas bikes e seguimos pelo meio do cerrado até a pedra. Placas no caminho explicam o motivo de o parque ter sido fechado.
Chegando no local da pedra, não dá pra perceber como ela é. O cerrado tampa um pouco a vista e o ângulo não favorece. Seguimos pela trilha lateral, um caminho de cristal, já que no chão, cobrindo a trilha, milhares de cristais.
E lá estava ela. Imponente e estática. É incrível o equilíbrio que a natureza proporcionou àquela pedra gigante. Embaixo, pinturas rupestres decoram sua base. Parecem feitas de barro. São mãos, círculos, setas. Desenhos primitivos.
As pichações também estão ali, já bem apagadas. Cristóvão contou que um batalhão do exército, em certa ocasião, chegou a subir na pedra e pular em cima, mas felizmente ela nem se mexeu. Embaixo formou-se um abrigo perfeito.
Uma lenda diz que a Pedra Chapéu de Sol é responsável pelo equilíbrio do mundo, já que, juntamente com Cristalina, está assentada na maior reserva de cristal de rocha do planeta. Moradores mais antigos da região relatam o avistamento de objetos luminosos semelhantes a tochas de fogo que sobrevoam a área do parque, o que reforça a teoria de que o local concentra grande energia.
Depois de fazer muitas fotos e vídeos, fizemos um lanchinho e tomamos nosso rumo. Seguimos por outra estrada, passando pela mata de eucaliptos que cerca o parque. Eu esperava que conseguíssemos sair sem ter que pular outra cerca, mas, depois de 2 kms pelo meio da mata, chegamos numa cerca e mais uma vez tivemos que pular.
Tínhamos que voltar para a estrada onde o caminhão tinha tombado, e não foi nada fácil. Foram 7 kms subindo, desde as margens do ribeirão São Pedro, com 1070m de altitude, até os 1220m, altitude média da cidade de Cristalina, onde estava o caminhão, que já estava com as rodas no chão quando voltamos pra lá. Eu estava na frente e parei ao lado da estrada para esperar os amigos. A.Pedro chegou muito cansado, sofrendo com a falta de sono da noite anterior, e ao chegar deitou-se no chão, no meio do lixo, pedindo pra relaxar um pouco.
Nosso próximo desafio era o ribeirão Moreira. Mais uma travessia de rio suspeita: haveria ponte? Foram 18 kms de descida rumo ao vale do Moreira. Ao nosso lado, como no dia anterior, lavouras sem fim, mas desta vez com um agravante: um cheiro forte de agrotóxico. Ao final destes 18 kms, chegamos numa pequena área de cerrado. Passamos pelo colchete e paramos sob uma árvore para fazer um lanche. Comemos os últimos pedaços do mocotó do Ponte Alta.
Depois do lanche seguimos por uma estradinha abandonada no meio do cerrado. Comecei a me preocupar: haveria passagem? A estrada estava bloqueada por montes de terra e havia enormes poças d’água que complicavam nossa passagem. Mas isso foi mole, o problema é que a estradinha acabou de repente num matagal. Seguimos no rumo que estava mapeado no GPS, mas eu não encontrava nada, apenas cupinzeiros escondidos no mato alto. A.Pedro e Cristóvão seguiam paralelamente a mim, e logo gritaram: “Achamos a estrada”. Ufa! Aí sim, me acalmei um pouco. Chegamos numa floresta de eucaliptos e fomos margeando ela, numa longa e íngreme descida.
Lá em baixo, estava a última dúvida de nosso desafio. A chuva dos últimos dias encheu o riozinho. Muitas poças d’água no meio da estrada, na mata ciliar, e, felizmente, lá estava a pontezinha, firme e forte, garantindo nossa passagem. Ufa! Se não houvesse ponte, já era: rio cheio e turbulento.
A saída do riacho foi tão ingreme quanto a chegada, mas não foi tão longa. Subimos de olho nas belas paisagens que deixamos pra trás.
Na subida, vários colchetes, e quando o cerrado acabou, entramos numa área de pastagens, com centenas de vacas que passaram a nos seguir. No final da estrada, um barracão me deixou preocupado. Fomos subindo em silêncio. Ao chegar ao barracão, ouvimos alguém trabalhando dentro dele. A estrada passava, bem na porta. Em silêncio, abrimos os dois portões de ferro que davam acesso ao barracão e passamos sem ser percebidos. Continuando a subida, outra área de eucalipto, e depois de alguns kms, o milho voltou.
Seguindo pela estrada, entre milharais e pequenos sítios, chegamos na GO-436. Era meio-dia, hora do almoço, então, procuramos uma sombra e paramos numa matinha na beira da estrada. O mato estava cheio de lixo, mas era a sombra que tínhamos disponível.
O almoço foi rápido. Teríamos alguns kms de asfalto agora. Seguimos por 3 kms e acabamos passando da nossa saída. Voltamos e encontramos a nossa estrada. Pulamos a cerca e passamos a seguir pelo antigo leito da GO-436. O asfalto ainda existe, mas já está bem deteriorado. No início, o entorno da estrada virou pasto. Alguns pontos estavam alagados.
Várias cercas fechavam a estrada, mas felizmente, na maioria, colocaram colchetes. Esta parte de pasto acabou numa cerca e do outro lado, adivinhe: milharal.
Pulamos a cerca. Seguimos pela beira da lavoura, que estava com lama, mato e algumas poças d’água. Foi um trecho cansativo, em que a bike afundava na lama. No final, o canto abriu e virou estrada novamente, com uma cerca bloqueando o caminho que precisávamos seguir. A estrada fez uma curva e nós seguimos por ela tentando achar um caminho pra atravessar a cerca. A estrada entrou numa mata, depois a contornou e cada vez se distanciava mais de nosso caminho. Decidimos voltar para o local onde saímos do tracklog. Pulei a cerca e do outro lado encontrei a estrada. Ufa! Voltamos pro nosso caminho.
Entramos numa área de terra nua. A estrada subiu e depois desceu até uma estrada de terra, onde acabou o leito da estrada velha. Agora o caminho era conhecido também pelo Cristóvão. A estrada plana e a vontade de terminar logo nossa viagem foram estímulos fortes para acelerarmos. Eu o A.Pedro disparamos. Cristóvão ficou pra trás e eu parei para o esperar numa bifurcação da estrada. De onde estava eu via o Cristóvão a cerca de 2 kms, parado à beira da estrada. Depois de esperar por quase 15 minutos, voltei pra ver o que estava acontecendo. O seu pneu tinha furado e como não havia nenhuma árvore para o Cristóvão se proteger do sol, ele estava xingando todas as gerações dos agricultores da região, que cortaram todas as árvores à beira da estrada.
Feito o conserto, voltamos pro pedal. A.Pedro já vinha voltando. Pouco depois, paramos novamente, na entrada de uma fazenda, onde havia algumas árvores pra deleite do Cristóvão. Ele terminou de encher o pneu da bike ali.
Faltava pouco. Mais alguns kms e finalmente as lavouras acabaram. Chegamos novamente no vale do Pamplona, mas estávamos na cabeceira do vale e tivemos que descer muito. Descemos rápido pelo meio de uma área muito bonita de cerrado.
E assim, por volta das 16h, depois de quase 370 kms pedalados, avistamos novamente o asfalto da BR-040, e poucos kms depois, chegamos na pamonharia. Comemoramos muito nossa chegada ali e também fizemos um lanche caprichado, já que o almoço foi bem fraco. Pamonha, empadão, coxinha, caldo de cana e Gatorade.
Depois do lanche foi só descer direto pro Rancho Cristaluna, onde oficialmente terminou o Desafio de Cristal.
Quilometragem do dia: 81 kms
Quilometragem total da cicloviagem: 368 kms
Tempo total pedalando: 28h26min
Por volta das 18h pegamos o rumo de casa no carro do Cristóvão, voltando finalmente para o convívio de nossa família. Mais um desafio vencido. Foi um bom treino para nossa próxima aventura: Serra da Canastra.
Parabéns aos aventureiros e vou reiniciar os treinos para quem sabe na próxima participar destes feitos sensacionais!!!
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Ouço estas promessa há anos! Kkkk
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